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SAGRADO E PROFANO
Sem alarde, operadoras investem nos dois mercados; produtora já faz filme pornô para telefone
Celular faz a festa com erotismo e religião
DA REPORTAGEM LOCAL
Pacote nš 1: assista a um clipe
erótico, destrua os bloquinhos e
veja a foto sensual de uma bela garota ou de um fortão, conheça as
posições do "Kama Sutra" ou receba informações sobre acompanhantes, motéis e casas de "strip".
Pacote nš 2: ouça "Erguei as
Mãos", do padre Marcelo Rossi,
ou o último sucesso do rock evangélico, leia salmos, contos bíblicos
e mensagens do papa.
Ninguém vê propaganda desses
serviços, mas eles estão entre os
mais rentáveis para as operadoras
de celular no Brasil. Sem fazer
alarde, as grandes empresas do
setor miram o mercado religioso
e o erótico e preparam novos produtos para os dois "nichos".
É frenético o ritmo com que
operadoras de telefonia móvel fazem parcerias com fornecedores
do chamado conteúdo "sagrado e
profano". As negociações envolvem, de um lado, igrejas católicas
e evangélicas, e, de outro, até distribuidoras de filmes pornôs.
A Buttman, maior produtora de
vídeos pornográficos do Brasil, já
se prepara para desenvolver produtos para a telinha. Em princípio, negocia com a Vivo o fornecimento de fotos para uma espécie
de manual de posições sexuais. A
operadora, que já oferece aos assinantes clipes sensuais, também
cogita, em médio prazo, comprar
da produtora curtos vídeos de sexo explícito.
"Ainda não está fechado, mas
podemos chegar a ter filmes pornôs. O interesse pelo erotismo é
uma tendência mundial, intrínseco à natureza humana, e não poderia estar fora de nossa oferta de
serviços", diz Roger Solé, diretor
de negócios e dados da Vivo.
Além de clipes e fotos, a operadora tem jogos com temática sexual para o público masculino e o
feminino. Em um deles, quanto
mais o usuário conseguir destruir
bloquinhos, mais aparece uma foto de uma modelo seminua.
"Antes, oferecíamos "games"
apenas para homens, com fotos
de garotas, mas as clientes começaram a ligar dizendo que queriam uma versão feminina. Não é
só porque tratamos de sexo que
temos de ser sexistas", diz.
Segundo Solé, os vídeos sensuais (assinatura mensal por $
9,99) estão entre os três mais baixados pelos clientes. De acordo
com ele, a Vivo tem 1,5 milhão de
clientes que usam o WAP (net via
celular) por mês. Desses, 250 mil
entram em conteúdo religioso e
erótico. "Costumamos brincar dizendo que o assinante primeiro
peca e depois vai se confessar."
Na Oi, os clipes da revista
"Sexy" são os recordistas em
download. Para baixar cada vídeo, paga-se R$ 1,99. A operadora
tem também fotos das "garotas
morango" e piadas eróticas. "É
uma demanda natural e tomamos
precauções para que o acesso seja
controlado", diz Alberto Blanco,
diretor de marketing de varejo da
Telemar, dona da marca Oi.
Blanco afirma que o consumo
de produtos religiosos também é
grande. Há ringtones (músicas de
toque) do padre Marcelo, salmos,
mensagens bíblicas e até trechos
do livro "Minutos de Sabedoria".
Made in Brazil
Além do consumo interno, o
Brasil começa a exportar conteúdos eróticos de celular para outros países, especialmente China e
Japão, primeiro e terceiro colocados no número de usuários de telefones móveis (dado da Anatel,
de dezembro de 2003).
Uma das líderes do país, a empresa mineira TakeNet já abriu
uma filial nos EUA (o segundo
maior mercado de celular no
mundo) e exporta imagens de
modelos brasileiras para as telinhas asiáticas. Para isso, foram
contratados fotógrafos e videomakers que passaram a se especializar na captação para celular.
"Eram profissionais de outras
mídias que agora estão se adaptando à nova linguagem. O celular
exige contrastes, cores fortes e
uma câmera com menos movimento", explica Marcelo Costa de
Oliveira, diretor de tecnologia e
inovação. A companhia também
vende cenas de paisagens e festas
brasileiras. "Aproveitamos o interesse de estrangeiros por tudo o
que tem origem no Brasil."
A TakeNet já negocia com operadoras nacionais. "O consumo
erótico, assim como na internet, é
forte no celular. As operadoras
ainda têm muita precaução e controle, já que há o risco de associar
sua marca à pornografia. Mas certamente olham com atenção para
esses conteúdos", afirma Oliveira.
Paralelamente ao "profano", a
TakeNet investe no "sagrado".
Fornece salmos, clipes e ringtones
gospel, entre outros exemplos.
(LAURA MATTOS)
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