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CRÍTICA
"ER" combina o previsível e o novo
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Nesta última quinta-feira
foi exibido no canal por assinatura Warner o 200º episódio
do drama médico "ER". Nos Estados Unidos, o seriado já está
em sua décima temporada e ainda atinge o terceiro lugar na audiência no concorridíssimo cenário do horário nobre norte-americano. Qual será o segredo
da longevidade de "ER"?
É uma pergunta que deve assombrar a noite dos executivos
de TV norte-americana. Como é
que se faz um seriado de tanto
sucesso por tanto tempo? "ER"
não é o único há tanto tempo no
ar, mas muito provavelmente é o
que ainda tem fôlego para mais
alguns anos. "Friends", por
exemplo, que também está em
sua temporada de número dez
nos EUA, já está com os dias contados e, mesmo se ainda não estivesse para acabar, há muito que
demonstra sinais de desgaste.
Uma pista possível pode ser a
combinação quase perfeita entre
previsibilidade e novidade. Quase todos os episódios têm a mesma estrutura, alternando os casos que chegam ao pronto-socorro de um grande hospital de
Chicago e as complicadas vidas
pessoais dos médicos e enfermeiras, e aqui cabe um parêntese curioso sobre as limitações do politicamente correto.
Ainda que ao longo destes dez
anos tenham sido mostrados
mulheres e homens exercendo a
profissão de enfermeiro, não há
nem houve nem sequer um enfermeiro homem a ser alçado ao
círculo de personagens mais importantes, aqueles que têm vida
pessoal. E, só para confirmar,
dois dos casais mais famosos de
"ER", os recentes Carter/Abby e
os charmosíssimos Doug/Carol,
eram formados pela clássica (e
chauvinista) dobradinha médico-enfermeira.
Embora a estrutura se assemelhe e os dramas dos personagens
principais não fujam daquilo de
sempre -amores, desamores,
encontros, separações, famílias
problemáticas etc.-, o fato de a
vida e a morte serem o pano de
fundo de "ER" introduz, de alguma maneira, um interesse que
não se esgota. Sabe-se o que esperar na maioria dos episódios,
mas, ainda assim, o desfile das
doenças, dos acidentes, das milhares maneiras de morrer oferece algum tipo de revelação permanente. É como se, diante do
sofrimento e da dor na ficção, a
simples constatação de estar vivo
e bem, ou no mínimo melhor do
que qualquer um daqueles que
estão nos corredores do hospital,
se transformasse numa espécie
de epifania.
Acrescente-se a isso um ritmo
que faz até mesmo filmes de ação
parecerem arrastados e que inspirou outras séries de sucesso,
como "CSI". A sensação de urgência e a tensão que comanda
não apenas os procedimentos
médicos, mas também os diálogos e relações entre os personagens são mantidas, de maneira
notável, em seu grau máximo há
dez anos.
E, além de tudo, foi "ER"que
lançou George Clooney para o cinema.
E-mail: biabramo.tv@uol.com.br
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