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CINEMA
Negociação para as filmagens envolveu até troca de gravadora; Rossi diz que levará cópia ao papa em janeiro
"Filme foi promessa", diz padre Marcelo
DA REPORTAGEM LOCAL
"Maria - A Mãe do Filho de
Deus" deverá virar notícia internacional. Marcelo Rossi diz já ter
agendado encontro com João
Paulo 2º, entre 4 e 6 de janeiro, para lhe entregar uma cópia.
Tudo, segundo Rossi, porque o
filme é fruto de promessa feita por
ele numa palestra dada pelo papa
a sacerdotes, no Rio, em 1997. No
Vaticano, o padre quer relatar ao
papa a repercussão do longa. E o
barulho, se depender da ficha técnica, não será pequeno.
A produção de "Maria" é de Diler Trindade, responsável por todos os blockbusters de Xuxa. Conhecida pelos investimentos certeiros de bilheteria, a produtora
realizou megaoperação mercadológica antes de apresentar o projeto ao padre. Passou dois anos estudando o filão de filmes com temas espirituais e formando grupos de discussão com católicos,
especialmente os da Renovação
Carismática, corrente de Rossi.
As filmagens envolveram locações em dunas a 500 quilômetros
de Natal e tiveram o apoio do governo do Estado do RN, de prefeituras e do Exército -que colocou
caminhões para abrir caminho na
areia (como "agradecimento", o
padre celebra hoje uma missa na
capital, com pré-estréia do filme).
A Columbia, multinacional do
mercado cinematográfico, que
comercializa tops de bilheteria
como "Todo Poderoso" e "Homem Aranha", já negocia com
México e Espanha a venda do filme, que será dublado pelo padre
("Yo hablo español, não há problema", brinca Marcelo Rossi).
O padre, que interpreta ele mesmo e um anjo, afirma não ter recebido cachê. O contrato, assinado entre a Columbia e o Terço Bizantino, prevê, segundo Diler,
50% do lucro com a bilheteria para as obras sociais do santuário
-seguindo o modelo da venda
de CDs e de outros produtos.
A ofensiva de marketing de
"Maria" inclui lançamento em
dez capitais com o padre, além de
sua participação em programas
de TV. Tendo como co-produtor
a Globo Filmes, o longa será divulgado em programas globais
como "Xuxa no Mundo da Imaginação" e "A Turma do Didi". E a
católica Rede Vida de TV exibe o
trailer quatro vezes ao dia.
Abaixo, na continuação da entrevista à Folha, Rossi fala da negociação para atuar em "Maria" e
revela que impôs uma condição
para interpretar o anjo: "Não me
coloquem asas!".
(LAURA MATTOS)
Folha - Como foram as filmagens?
Marcelo Rossi - No primeiro dia,
travei. O Moacyr [Góes, diretor]
me disse: "Seja você mesmo". No
segundo, fiquei tranquilo. Há a
parte em que faço um anjo. Falei:
"Não me coloquem asas!". Mesmo com a história contada sob a
ótica de uma criança, não aceitaria. Ia ser a chacota dos padres.
Imagina, entrar com uma asinha!
Folha - Atuar no cinema era um
projeto do sr. ou foi convencido a
fazer o filme pelos produtores?
Rossi - Na verdade, foi uma promessa. Por isso, vou entregar ao
papa. Em 97, num congresso no
Rio, ele disse aos padres: "Não
adianta ficar na igreja sentado. Estamos num outro mundo. Busque novos meios, sem perder o
conteúdo. Vá ao encontro dos católicos". Caiu a ficha. Falei ao
dom Fernando [Figueiredo, bispo]: "Pode haver crítica, mas vamos fazer CD". Fiz tudo em comunhão com o papa. Até que, há
três anos, achei que já tinha atuado em todas as áreas, e a promessa estava cumprida. E alguém falou: "Padre, só falta o cinema".
Folha - Quem disse isso ao sr.?
Rossi - Um funcionário da gravadora Universal [com a qual tinha contrato]. E aí caiu de novo a
ficha. Conversei com o Marcelo
Castelo Branco [presidente da
Universal à época]: "Aqui, estou
infeliz. Quero o cinema. Se vocês
ficarem comigo, não vou fazer nada". Não estava ameaçando, mas
explicando que queria o filme. A
Universal não tem um braço forte
para filmagem no Brasil, que é o
caso da Sony com a Columbia. E
acabei fechando com a Sony [que
lança a trilha sonora do longa].
Folha - Pelas expectativas da produtora, seu filme terá 2,5 mi de espectadores. Depois de ficar famoso
na TV e no rádio, deverá se transformar em astro de cinema. Quem
ouve suas palavras é fiel ou fã?
Rossi - Fui hoje a um almoço na
Corregedoria da Polícia. Interessante o respeito que as pessoas
têm, tanto católicos como evangélicos. Vêm pedir a bênção. Sabem
que eu não sou artista. No filme,
sou eu mesmo, para mostrar que
minha missão é evangelizar.
Folha - Como é sua convivência
nesse ambiente de celebridades?
Rossi - Lido com morte. Já tive
três pessoas em minha família
que morreram com câncer. Não
sei o dia de amanhã e isso te põe
no teu lugar. Não perco tempo,
evangelizo. Tem pessoas que respeito e criei vários amigos. No
bastidor, vou evangelizando.
Sempre me pedem a bênção.
Folha - O sr. assistiu a "Todo Poderoso", com Jim Carrey, e "Deus É
Brasileiro", com Antonio Fagundes, sobre encarnações de Deus?
Rossi - "Todo Poderoso", achava
que deturpava a imagem de Deus.
Depois, o Diler [Trindade] me explicou o roteiro e percebi que há
uma mensagem. "Deus É Brasileiro", pelo que me contaram, não
quis ver. Não sei. Tenho respeito
pelo Fagundes, então não posso
falar, porque o acho maravilhoso.
Folha - Como lida com o fato de
"Maria" ser fruto de uma estratégia mercadológica de investir em
temas espirituais e de contar com
uma megaoperação de marketing?
Rossi - O meu objetivo é evangelizar. Se vai ser bom para eles, é
outro problema, não é o meu.
Folha - Qual é a sua opinião sobre
a entrevista do "Domingo Legal"
em que foi ameaçado e toda a polêmica de Gugu, de quem o sr. é próximo e com quem já fez viagens e
reportagens na revista "Caras"?
Rossi - Vou contar uma historinha grega, em que estará minha
resposta: dois grandes amigos levaram uma caravana à Europa.
Atravessando um rio, um deles
cai. O outro o salvou. O que caiu
escreveu na pedra: "Nesse dia,
meu amigo me salvou". Na volta,
brigaram. E o mesmo escreveu na
areia: "Nesse dia, meu amigo me
ofendeu". Um servo perguntou:
"Numa hora, escreve na pedra,
em outra, na areia. Por quê?".
"Porque as coisas boas, quero que
sejam gravadas em pedra. As
ruins, na areia, porque vem a onda do mar e já já passa."
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