|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica
Masur rege excelente Orquestra Acadêmica
Na Sala São Paulo, concerto marcou o encerramento do Festival de Campos
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
A ovação no final foi estupenda. Fazia justiça
não só ao que se tinha
ouvido -a "Nona Sinfonia" de
Beethoven (1770-1827), tocada
com energia pela Orquestra
Acadêmica do Festival de Campos do Jordão-, mas às circunstâncias: o último dos 50
concertos do festival, regido
pelo diretor da Orquestra Nacional da França, Kurt Masur.
Ali se aplaudia não só a música,
os músicos, o regente, mas a
idéia por trás de tudo isso, e a
juventude na frente.
Que a orquestra merecia
muitos aplausos, ninguém duvida. Os bolsistas do festival
formaram uma excelente orquestra, de padrão internacional. Vale lembrar que só se encontraram há um mês; e dói
pensar que agora essa orquestra acabou. Fica a gravação ao
vivo, a ser lançada em CD.
Na gravação, será fácil corrigir problemas de afinação; menos fácil acertar pequenos descompassos de conjunto. Nada
disso comprometeu a vibração
da Sala São Paulo lotada, no domingo encomendado de sol.
O palco mal acomodava a gigantesca fera da orquestra.
Também as forças combinadas
dos dois coros -Coro da Osesp
e Coral Paulistano, sempre
muito bons- acumulavam-se
ao fundo, esperando o último
movimento, toda a energia potencial pronta para virar explosão cinética.
A explosão já se antevê no recitativo dos violoncelos e contrabaixos. Ali a música, sem palavras, chega no limite da palavra, que afinal tem de nascer,
como uma necessidade interna. Masur fez os meninos falarem música com eloquência
natural. Depois coube ao barítono Stephen Bronk romper a
barreira do verbo, abrindo outro espaço do espírito, que ele
dividiu com o tenor Fernando
Portari, a contralto Adriana
Clis e a soprano Rosana Lamosa -um quarteto mágico do
canto brasileiro.
Foi bonito ver o maestro Masur, do alto dos seus 81 anos
de idade (e 53 de reger a "Nona
Sinfonia"), conduzindo a orquestra com a mesma atitude
que mantém com as maiores
sinfônicas do mundo. Rege
com o estômago, rege com o coração e rege com a cabeça. Em
muitos pontos -os de maior
agitação- fica quase parado,
deixando a música seguir seu
inapelável curso. A música confia e obedece.
Se valem os sinais externos,
tudo indica que passou a crise
da anunciada, depois revista,
saída do maestro Minczuk como diretor artístico do festival.
Tanto melhor: a última coisa
que se quer é uma crise que
comprometa essa música, esses
músicos, a idéia por trás e a juventude por tudo.
Avaliação: ótimo
Texto Anterior: Fim da manhã é opção para fugir da fila Próximo Texto: Orquestra faz concerto no sábado Índice
|