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TELEVISÃO
Cineasta pioneiro dá aula em feira de rua em SP
"Produção de filmes forma cidadãos críticos", diz documentarista George Stoney, 92
Professor da NYU e ativista político a favor da TV comunitária passou duas semanas no país para ensinar jovens de baixa renda
DA REPORTAGEM LOCAL
Dez dias atrás, um velhinho
vestindo camisa de mangas
compridas abotoadas no pulso,
calça social de cintura alta e boné dos "New York Yankees" fazia gestos de diretor de cinema
no meio de uma feira de rua na
Barra Funda, bairro de classe
média baixa de São Paulo.
Quem "enquadrava" com as
mãos carrinhos e sacolas de
compras era George Stoney, 92,
professor de cinema da NYU
(Universidade de Nova York),
pioneiro do documentário norte-americano e ativista político
a favor das TVs comunitárias.
Stoney passou duas semanas
no país, a convite do Instituto
Criar, ONG fundada pelo apresentador de TV Luciano Huck
que dá cursos gratuitos de técnicas de audiovisual para jovens de baixa renda. Naquela
quinta-feira, conduzia uma
turma de 30 alunos e ensinava
técnicas de filmagem e "faro"
para reconhecer boas histórias.
"O problema aqui é o contraste entre luz e sombra, que é
muito grande", traduzia a intérprete, enquanto ele se protegia do sol sob uma barraca de
frutas. Conversa com o vendedor. "Nós desafiamos os alunos
a encontrarem histórias interessantes. Esse rapaz acabou de
me dizer que quer aparecer no
filme, para que sua namorada o
reconheça e volte para ele. Você
já tem uma história aí."
Danilo Lourenço Pinto, 19,
"mas todo mundo me chama de
"Gostoso'", afirma estar separado de Daiane, de quem ainda
gosta. A razão da briga? "Por
que é que mulher larga homem?", ele pergunta, de forma
retórica. "Dinheiro, meu, sempre dinheiro", explica.
Stoney esteve no Brasil pela
primeira vez nos anos 70, e diz
ter trabalhado com o diretor de
teatro Augusto Boal e com o
educador Paulo Freire (1921-1997). Nos EUA, advogou pela
criação da lei que garante a
existência de TVs comunitárias
a partir de taxas pagas pelos canais a cabo.
O diretor, que ministra o curso de "produção de documentários socialmente relevantes"
na NYU, diz que seu interesse
maior está em formar cidadãos.
"Quando se envolvem na produção de filmes, os alunos percebem como eles sempre se
aproximam da verdade, em vez
de alcançar a verdade em si. Isso os torna mais críticos."
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