|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/show
Sem concessões, Muse traz ótima barulheira melódica e suntuosa
Em show em Buenos Aires, banda, que toca hoje em SP, evita suavizar o som e destaca líder que lembra Jimi Hendrix
SYLVIA COLOMBO
EM BUENOS AIRES
Quem assistiu a algo dos
concertos que o Muse
deu em junho do ano
°°passado no então recém-inaugurado Wembley, em
Londres, deve estar imaginando como uma banda com sonoridade tão explosiva pode se
comportar num espaço fechado sem causar danos à sua
estrutura.
Pois foi com essa dúvida e
com a imagem grandiosa do
trio inglês sendo alçado por
máquinas do meio daquele colossal estádio lotado de fãs aos
gritos -isso pode ser conferido
no DVD "H.A.A.R.P." (Warner;
CD + DVD a R$ 62, em média)-
que entrei no Gran Rex, um dos
mais tradicionais teatrões de
Buenos Aires, para conferir a
primeira das duas apresentações que a banda fez na cidade,
na semana passada.
Eu me perguntava se o pomposo espaço da avenida Corrientes iria continuar de pé depois de um par de horas de
apresentação do grupo, que
mistura rock progressivo e
punk setentista.
Não só o velho Gran Rex seguiu firme como a banda não se
sentiu obrigada a fazer concessões. Nada de adaptações acústicas, percussão mais moderada nem solos de cordas menos
ruidosos. O Muse tocou a 100%
no coração da cidade do tango.
Se fizer o mesmo hoje, no
HSBC Brasil, os roqueiros paulistanos sairão felizes.
O show que veio para a América do Sul é uma versão muito
fiel de "H.A.A.R.P.", apenas troca um pouco a ordem das canções. O repertório privilegia os
hits do mais recente CD, "Black
Holes & Revelations", como
"Starlight" e "Map of the Problematique"; mas não ignora
belas canções anteriores ao estrelato da banda, como "Time
Is Running Out" e "Sunburn".
Comparações
É equivocada e preguiçosa a
comparação que se faz entre o
Muse e o Radiohead. Basta reparar no modo como Matt Bellamy se curva para dedilhar a
guitarra, ou como o faz com ela
levantada sobre a cabeça.
Sua performance é uma óbvia evocação do estilo de Jimi
Hendrix. O próprio Bellamy já
disse que a apresentação do mítico guitarrista em Monterey,
em 1967, é sua grande inspiração. Enquanto o pequeno guitarrista de Cambridge solta-se
como versão moderna do ícone
americano, Dominic Howard
faz caretas de moleque detrás
da "imparável" bateria, e o baixista Christopher Wolstenholme, sisudo, destoa do grupo, como um irmão mais velho a marcar o passo dos mais novos.
O ponto alto do show na Argentina foi a seqüência "Invincible"/"Hysteria". A primeira,
que começa com uma lenta levada de marcha marcial e termina numa apoteose de ruídos
e fogos de artifício, abre espaço
para a segunda, onde o virtuosismo de Bellamy chega ao clímax. No telão ao fundo, animações gráficas fundem-se a imagens de manifestações de rua.
No bis, a banda pede a todos
que acendam os celulares para
acompanhar a bonitinha "Soldiers Poem". Surgem balões
cheios de papel picado, que
passeiam sobre as cabeças e depois explodem sobre o público.
Alguém responde, jogando
um ursinho de pelúcia branco
aos pés do baixista. "Knight of
Cydonia" encerra a noite, com
disparos de gelo seco formando
uma cortina entre os músicos e
os fãs. Parece uma tentativa da
banda de oferecer um epílogo
lúdico para compensar os excessos cometidos com nossos
ouvidos. Não é necessário. Eles
só têm a agradecer.
Não há nada mais melódico e
suntuoso no pop hoje do que a
barulheira do Muse.
MUSE
Quando: hoje, às 22h
Onde: HSBC Brasil
(r. Bragança Paulista, 1.281, tel. 0/xx/11/4003-1212)
Quanto: de R$ 140 a R$ 250 (até o fechamento desta edição, ainda havia ingressos de R$ 140 e de R$ 200)
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
Avaliação: ótimo
Texto Anterior: Após turnê de sucesso, Cisne Negro leva três coreografias ao Municipal Próximo Texto: Música: Show de Roberto e Caetano no Rio tem nova data Índice
|