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Crítica artes plásticas
Mostras da Pinacoteca dialogam com século 19
Vasco Araújo faz versões de Debret usando miniaturas e Francis Alÿs reúne cópias da imagem de uma santa
Duas pequenas exposições, de Francis Alÿs e Vasco Araújo, atestam a vitalidade da Pinacoteca do Estado, a partir da nova disposição do acervo da instituição, inaugurada em 2011.
O fundamental aqui é perceber como, ao alocar mostras temporárias em meio ao acervo, gerou-se um novo fluxo no museu. Antes, mostras temporárias ficavam apenas no primeiro andar, e quem as visitava raramente subia ao acervo.
Tanto Alÿs quanto Araújo, artistas de renome da cena contemporânea, funcionam como chamariz para o andar que é, em sua maioria, composto de obras do século 19. Ambos também criam ótimos diálogos com a coleção.
O mais óbvio é o do português Araújo. Suas pequenas esculturas são como que versões tridimensionais de gravuras do francês Jean-Baptiste Debret (1768""1848), realizadas em 1834 e 1835, que retratam cenas da escravidão no Brasil.
Araújo parte desse imaginário e cria situações tão debochadas e sarcásticas que tornam mais contundente o tema do preconceito racial na sociedade brasileira.
Assim, enquanto Debret é visto como documento, Araújo torna-se comentário, um procedimento típico da arte contemporânea.
Instalação criada pelo artista para a Pinacoteca, ela atesta o empenho da instituição na produção de novas leituras sobre sua coleção.
SANTA CRISTÃ
Já a sala dedicada ao belga radicado no México, Alÿs, não é uma obra comissionada pela Pinacoteca, mas parte de uma pintura acadêmica também do século 19, "Fabiola", uma imagem de uma santa cristã do século 4, de autoria do francês Jean-Jacques Henner.
Desde 1990, Alÿs coleciona cópias da "Fabíola", em diversos formatos, seja em pintura ou até mesmo em bordado. Assim, sua instalação é composta de nada menos que 400 dessas versões.
O mais representativo nessa proposta é que a obra original, de Henner, está perdida. Com isso, Alÿs aborda questões como original e cópia, uma temática cara ao academismo, já que boa parte da pintura que se produzia naquele período era cópia. A cópia também era importante passo no aprendizado da pintura, no século 19, temática tratada pela própria exposição do acervo.
Dessa forma, as duas instalações contemporâneas, tanto de Araújo quanto de Alÿs, funcionam como lupas, para se observar o acervo da Pinacoteca com novo vigor.