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Crítica biografia
Livro investiga origem do líder criminoso Charles Manson
ANDRÉ BARCINSKI CRÍTICO DA FOLHAQuase 45 anos depois dos massacres que custaram a vida de sete pessoas, incluindo a da atriz Sharon Tate, casada com o cineasta Roman Polanski, continua grande o interesse pela história do mentor dos crimes, Charles Manson.
Uma prova é a grande repercussão da biografia "Manson: The Life and Times of Charles Manson", de Jeff Guinn, que saiu em agosto nos EUA.
Muitos livros já foram escritos sobre "Charlie". O mais famoso, "Helter Skelter", de Vincent Bugliosi e Curt Gentry, foi o livro de crime real mais vendido de todos os tempos e se concentrou nos assassinatos e na relação de Manson com seus discípulos.
Bugliosi foi o promotor que conseguiu a condenação da gangue à câmara de gás. Mas Manson não chegou a ser executado porque a Califórnia extinguiu a pena de morte antes. Hoje, com 79 anos, ele cumpre prisão perpétua.
O livro de Guinn é a mais profunda investigação sobre a origem de Manson. O autor ouviu parentes e colegas de infância e mostra como os crimes que ele orquestrou foram a culminação de uma vida inteira dedicada ao mal.
Desde pequeno, Charlie já estava às turras com a lei. Passou a maior parte da infância e adolescência trancado em celas, experimentando e impingindo a brutalidade.
Aos seis anos, Charlie já demonstrava algumas das características que o mundo conheceria tempos depois: cometia delitos e culpava outros, ou cooptava amigos para participar de crimes e depois fingia não saber de nada.
Após passar anos preso, chegou à Califórnia em 1967, no auge do movimento hippie, e usou todo seu carisma e maquiavelismo para juntar um bando de renegados --geralmente jovens de classe média com problemas familiares-- na gangue "Família Manson".
Charlie virou um guru. Administrava sessões coletivas de LSD enquanto pregava sua filosofia, em que defendia a superioridade do homem branco em relação a negros e mulheres e previa o iminente fim do mundo, causado por um sangrento conflito racial.
É notável a forma como Guinn contextualiza aquela época braba, com o crescente conflito no Vietnã, os assassinatos de Martin Luther King e Bobby Kennedy e o terrorismo nos Estados Unidos.
O autor mostra grande talento para contar, de maneira simples e direta, a história de tantas pessoas envolvidas nos massacres --as vítimas, os mais de 30 membros da "Família Manson", os investigadores, e o próprio Charlie.
O livro de Guinn é um documento assustador e emocionante sobre os crimes que acabaram com o sonho hippie de paz e amor.