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Bienal lança nomes para além dos grandes centros
Próxima edição da mostra internacional em SP ignora lobby de galerias
Curadores também dão peso maior a artistas da América Latina e do Oriente Médio, reagindo a protestos
Embora esteja em sintonia com fenômenos da cultura pop, como é o caso de seu foco transexual, a Bienal de São Paulo tenta buscar outro caminho na seleção de artistas, ou seja, parece ignorar o poderoso lobby das galerias.
Entre os brasileiros, estão jovens artistas que vivem fora dos grandes centros, bem longe do mercado, como Ana Lira e Arthur Scovino, de Salvador, Romy Pocztaruk, de Porto Alegre, Yuri Firmeza, de Fortaleza, Armando Queiroz, de Belém, e Thiago Martins de Melo, de São Luís.
No caso dos estrangeiros, também existe um foco no novo, ou pelo menos no marginal, com raras exceções, como a israelense Yael Bartana, que esteve na Bienal de Veneza, o turco Halil Altindere e a bósnia Danica Dakic, que estiveram na Documenta, em Kassel, na Alemanha, uma das maiores mostras de arte contemporânea do mundo.
"Esperamos que essa seja uma mostra de descobertas", diz o britânico Charles Esche, curador da mostra. "O papel de uma Bienal é mostrar vozes que não seriam ouvidas."
BIENAL PÓS-PROTESTOS
Esche também parece aludir aqui ao fato de esta ser uma Bienal pós-protestos de junho do ano passado e na ressaca das manifestações que varreram o mundo todo.
Ou seja, a política e seus descaminhos deve estar na mira de boa parte dos artistas. Altindere, por exemplo, traz à Bienal um vídeo em que rappers de mentira ironizam os abusos da especulação imobiliária em Istambul.
Noutro vídeo, Dakic também reflete sobre a busca por um território ideal. Em "El Dorado", ela convida jovens imigrantes a contar histórias diante do afresco de uma paisagem idílica, opondo a realidade dos participantes à ficção dos textos e do quadro.
ORIENTAIS E LATINOS
Também é uma mostra focada em nomes do Oriente Médio, como o libanês Walid Raad e a egípcia Anna Boghiguian, e da América Latina, como os peruanos Giuseppe Campuzano e Sergio Zevallos, o mexicano Nahum Zenil, a colombiana Johanna Calle e o chileno Juan Downey.
Downey e Calle, aliás, ambos tratam de questões indígenas em seus trabalhos, o mesmo foco de Pocztaruk, que fez fotografias ao longo da rodovia Transamazônica.
Boghiguian, que também já esteve na Documenta, fará seu novo trabalho a partir de desenhos que vai criar numa viagem pela Amazônia.
Embora um quarto das obras na mostra devam ser vídeos, também haverá espaço para pintura, um dos suportes que vinha perdendo seu espaço nas grandes mostras.
O português Bruno Pacheco e a veterana artista norte-americana Jo Baer, além do brasileiro Martins de Melo, serão destaques dessa área.