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Crítica - Pop
Lana Del Rey soa falsa, mas funciona
Terceiro disco de cantora americana embrulha referências do passado em pacote modernoso
'ULTRAVIOLENCE' É UMA COLEÇÃO DE BALADAS LÂNGUIDAS E ETÉREAS, COM LETRAS ESPERTAS SOBRE MENINAS FORTES QUE SOFREM E FAZEM SOFRER
ANDRÉ BARCINSKI ESPECIAL PARA A FOLHALana Del Rey, Sofia Coppola, Amy Winehouse, Spike Jonze, Danger Mouse...
Alguns dos artistas mais interessantes e cultuados dos últimos anos, tanto na música quanto no cinema, fizeram suas carreiras mimetizando o passado, trazendo velhas influências e lhes dando uma roupagem nova, um ar de modernidade hipster que torna tudo "cool" e atual.
Esses talentos da geração YouTube têm a história do pop à disposição com um clique, e sabem usá-la.
Lana Del Rey é uma dessas "esponjas".
Sua música é derivativa; ouça qualquer de suas canções e tente descobrir a origem --musicais hollywoodianos, pop californiano dos anos 1970, soft-rock, Nancy Sinatra, hip hop, o pop psicodélico de Lee Hazlewood.
Mas tudo é tão bem feito e embalado em um pacote modernoso que acaba soando original (não podemos esquecer que até virar "cult" nas mãos do diretor Quentin Tarantino, que a colocou na trilha do filme "Kill Bill", Nancy Sinatra era exemplo de "kitsch" sessentista).
"Ultraviolence", terceiro disco de Lana Del Rey, é uma coleção de baladas lânguidas e etéreas, com letras espertas sobre meninas fortes que sofrem e fazem sofrer.
Lana sabe escrever canções com uma pitada de perigo, usando referências escolhidas a dedo --uma menção a Lou Reed aqui ("Brooklyn Baby"), uma versão de balada lacrimosa cantada por Nina Simone acolá ("The Other Woman"), títulos como "Mundo Cruel" e "Trepei para Chegar ao Topo".
O resultado é mais um disco maquiavelicamente ousado, que faz Lana parecer uma dessas "chanteuses" malditas, como Nico ou a citada Nina Simone. Falso? Pode ser, mas funciona.
Oito das 11 faixas do disco foram produzidas por Dan Auerbach, guitarrista e vocalista do grupo Black Keys, que está se revelando um artesão pop de primeira, com excelentes trabalhos em discos de Dr. John ("Locked Down") e do guitarrista africano Bombino ("Nomad").
Em "Ultraviolence", ele acertou a mão de novo.