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Crítica - Música erudita
Dudamel mostra energia em concerto com a Simón Bolívar
Maestro demorou para acertar obra de Villa-Lobos, mas depois foi impecável
Demorou um pouco para esquentar: nos dois primeiros movimentos da "Bachianas Brasileiras nº 2", de Villa-Lobos (1887-1959), a Sinfônica Simón Bolívar ainda não havia mostrado as suas principais qualidades.
Ponto alto do sistema que tem disseminado a formação de orquestras para além da Venezuela, ela foi regida por Gustavo Dudamel, astro da cena clássica atual.
Domingo (6), na Sala São Paulo, a obra de Villa-Lobos talvez tenha sido um pouco subestimada. As cordas estavam pouco presentes, e a distância física entre piano e baixos dificultou algumas entradas.
Na imaginativa "Segunda Bachianas", Bach e Brasil são justapostos, como se ainda não pudessem se comunicar profundamente. Sax tenor, cello e trombone comandam a trama que deságua no famoso "O Trenzinho do Caipira".
Energia, precisão rítmica e o carisma de Dudamel começaram a aparecer na parte central da "Ária" --que Villa-Lobos chama "Lembrança do Sertão"--, e a partir daí o concerto foi impecável.
"Margariteña", do venezuelano Inocente Carreño, é uma peça que tem pouco a oferecer além da habilidade orquestral para unir temas folclóricos: foi tocada com o som "caliente" que caracteriza o grupo.
Dudamel regeu "Sinfonia Fantástica", de Berlioz (1803-69), com intimidade e refinamento. Basta vê-lo ao vivo para perceber que não se trata apenas de fenômeno midiático: jovem talentoso, ele cuida antes de tudo da música.
A junção de ostentação técnica com expressividade dá um tom maneirista à obra de Berlioz; ela está "entre estilos", e é notável que tenha sido escrita muito antes do auge do romantismo. Foi uma execução notável, sem concessões.