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Mostra exibe 29 filmes de Sirk, gênio do melodrama Influência para Almodóvar, cineasta ganha ciclo a partir de amanhã em SP Revista "Cahiers du Cinéma" ajudou a reavaliar obra do diretor como retrato das contradições dos EUA ALCINO LEITE NETODA EQUIPE DE ARTICULISTAS Entre os anos 1950 e 1960, os críticos da revista "Cahiers du Cinéma" realizaram uma releitura dos filmes americanos que mudou para sempre o modo como vemos a produção de Hollywood. Graças a esses críticos -entre eles, Truffaut e Godard-, descobriu-se que alguns diretores hollywoodianos estavam construindo, por meio da linguagem popular do cinema, uma obra artística relevante e coesa, como a dos melhores escritores. O cinema de Hitchcock foi o front principal dos "Cahiers". A revista enfrentou várias polêmicas ao defender que o realizador de "Um Corpo que Cai" (1958) não era um mero prestidigitador do suspense, mas sim um dos artistas essenciais do século 20 -ideia que é, hoje, consensual. Outros diretores subestimados à época também foram objeto da cruzada empreendida pela revista, como Douglas Sirk (1897-1987), o gênio dos melodramas hollywoodianos, de quem o CCBB paulistano apresenta, a partir de amanhã, a maior retrospectiva já feita no país, com 29 filmes. Nascido em Hamburgo, construiu sólida carreira teatral nos anos 1920, dirigindo clássicos, como Shakespeare (de quem traduziu peças e poemas), e autores modernos, como Luigi Pirandello, Bernard Shaw e Bertolt Brecht. Em 1934, foi contratado pelo estúdio alemão de cinema UFA, em que realizou, com seu verdadeiro nome, Detlef Sierck, oito longas-metragens. Em 1937, desembarcou nos EUA fugindo do nazismo. Seus dramas familiares e amorosos, de emoções bem exacerbadas, encantavam o público, mas eram menosprezados pela "intelligentsia" do cinema. Atordoada pelas concessões de Sirk ao sentimentalismo de Hollywood, a crítica não percebia quão elaborados eram seus roteiros do ponto de vista dramático, como sua cinematografia era de um extremo rigor plástico e como ele recorria à erudita formação teatral para radiografar as contradições sociais dos EUA e captar as reverberações trágicas dos dramas comuns americanos. Após a defesa dos "Cahiers", a consagração de Sirk continuou. Numerosos "scholars" vêm se debruçando sobre sua obra e reavaliando a importância do melodrama. Sua influência é também decisiva para o cinema contemporâneo e afetou, entre outros diretores, o espanhol Pedro Almodóvar e o alemão Rainer Werner Fassbinder, que chegou a visitar o diretor na Suíça e sobre ele escreveu: "Sirk fez os filmes mais ternos que conheço; filmes de um homem que ama as pessoas, em vez de desprezá-las, como nós fazemos". Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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