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Todorov mira pensamento conservador em palestra Teórico participa hoje do projeto Fronteiras do Pensamento, em SP Pensador lança novo livro no Brasil e afirma que a ideia de liberdade foi pervertida pelas democracias atuais MANUEL DA COSTA PINTOCOLUNISTA DA FOLHA No momento em que o pensamento neoconservador virou moda no Brasil, o francês (de origem búlgara) Tzvetan Todorov usa o argumento dos adversários das utopias de esquerda para contra-atacar. Em seu novo livro, "Os Inimigos Íntimos da Democracia" (ed. Companhia das Letras; R$ 39,50; 216 págs.), ele acusa o ultraliberalismo contemporâneo de ser tão messiânico quanto os ideais da Revolução Francesa ou da doutrina comunista. "Nossas culturas e filosofias, que se queriam livres de qualquer influência religiosa, continuam a sofrer a pressão de uma doutrina que foi dominante durante milênios. Hoje, não dizemos mais 'as leis da Providência', mas 'as leis da história', ou 'as leis do mercado', embora sejam quase a mesma coisa", diz Todorov em entrevista à Folha. Esse também será o tema de sua palestra na série Fronteiras do Pensamento: "Três Ondas do Messianismo Político: Colonialismo, Comunismo, Guerras Humanitárias". Radicado desde os anos 1960 em Paris (onde adquiriu cidadania francesa em 1973), Todorov se dedicou inicialmente à crítica literária, difundindo o formalismo russo e tornando-se importante teórico do estruturalismo. Nas últimas décadas, voltou-se para temas da filosofia e do pensamento político. Em "Os Inimigos Íntimos da Democracia", ele parte daquilo que os gregos chamavam de "húbris" ("descomedimento") para descrever como as democracias contemporâneas perverteram a ideia de liberdade com "bombas humanitárias". Também lembra como o uso do termo "liberdade" na sigla de partidos de extrema-direita (como o xenófobo partido da liberdade holandês) pode ser pura expressão de má-fé. A mesma má-fé que, em seu país natal, fez com que as utopias dessem lugar à manipulação ideológica. "A crença ingênua é ainda mais perigosa que a manipulação consciente. Na Bulgária, a primeira década [de comunismo] foi a dos fanáticos sinceros; as seguintes foram dominadas pelos carreiristas cínicos", argumenta ele. "Hoje, muita gente acredita sinceramente que as guerras feitas na Ásia e na África espalham as benesses da democracia, que a falta de regulação dos mercados significa mais liberdade. Mas seus instigadores não são enganados pela própria propaganda."
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