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Verbo reúne performances com ar teatral Festival da galeria Vermelho traz ações que usam roteiro, cenografia e iluminação SILAS MARTÍDE SÃO PAULO De efêmero e visceral para algo estruturado e teatral. Performances já não são mais o que eram quando o gênero estourou nas artes visuais nas décadas de 1960 e 1970. Na atual etapa de ações do Verbo, festival dedicado a esse suporte na galeria Vermelho, em São Paulo, o foco se volta para um híbrido de performance e elementos tradicionalmente ligados ao teatro, como cenografia, roteiro, direção, figurino, trilha sonora e iluminação. "Há um controle que foi retomado no campo da performance", analisa Julia Rodrigues, que montou o programa de seis performances encenadas hoje na galeria. "É quase artificial: a ação é construída, tem roteiro, regras, toda uma estrutura teatral." Essa é uma mudança que extrapola o festival. Museus de peso no mundo todo, como o MoMA, em Nova York, a Tate, em Londres, e instituições brasileiras, como o Museu de Arte Moderna do Rio e o Instituto Inhotim, em Minas Gerais, vêm repensando a forma de encaixar performances em exposições e preservar essas ações em seus acervos. Na última Documenta, em Kassel, na Alemanha, o artista Tino Sehgal ocupou um galpão escuro com músicos e dançarinos que provocavam quem entrasse na sala. Embora parecesse improviso, ali também havia um roteiro. É o caso igualmente das performances que podem ser vistas agora em São Paulo. Vivian Caccuri, a única brasileira do time de artistas, encena uma espécie de leitura dramática arrastada. Junto de outros atores, ela lê um texto em que as palavras foram decantadas em sílabas e cada fonema é pronunciado de forma isolada. Cada ator aguarda o término da sílaba pronunciada pelo antecessor para então recitar a sua parte do verso, alongando o texto por uma hora. Lilibeth Cuenca Rasmussen, artista dinamarquesa que já participou do Verbo, encena agora uma performance em que se veste de homem e encarna alguns estereótipos masculinos -uma reflexão sobre o território perdido pelos homens numa sociedade que já reconheceu a importância da mulher. Rasmussen troca de figurino várias vezes e tem também músicos e atores em ação no palco. "Esses artistas pensam em como expandir a performance para o espaço", diz Rodrigues. "São personagens surreais, improváveis, e tudo é construído, roteirizado." Tanto que outras ações, como a do grupo A Kassen, em que uma goteira de vinho foi instalada na galeria, a do francês Julien Bismuth, em que o artista lê um texto com projeções, e a da dinamarquesa Hannah Heilmann, em que a artista cria uma representação do mundo virtual, também respeitam a ideia de mise-en-scène e construção.
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