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Crítica / Drama Diretora usa o extraordinário para sublinhar o banal na vida DO CRÍTICO DA FOLHA"Chamada a Cobrar", longa de Anna Muylaert que tem como ponto de partida aquele tipo de golpe telefônico em que se simula o sequestro de um parente da vítima, é uma nova versão, mais longa, de "Para Aceitá-la, Continue na Linha", telefilme exibido pela TV Cultura em 2010. Entre a ideia original e a exibição na Mostra, o mote do filme pode não ter deixado de existir, mas certamente deixou de frequentar o imaginário da maioria das pessoas. O que não significa que "Chamada a Cobrar" tenha perdido fôlego nesse tempo. Porque, como já havia demonstrado em "Durval Discos" (2002) e "É Proibido Fumar" (2009), Muylaert está menos interessada nas circunstâncias externas do que em registrar o impacto de um fato extraordinário na vida ordinária de uma pessoa. Aqui a protagonista é Clara (a excelente Bete Dorgam), senhora de classe média alta de São Paulo que recebe a chamada em que um golpista diz ter sequestrado a mais jovem de suas três filhas e que parte de carro ao Rio para entregar o resgate. A cena central desse "road movie", e chave para decifrar o cinema de Muylaert, é aquela em que Clara compra dezenas de bichos de pelúcia para a família, em meio ao completo desespero, numa parada na rodovia: o extraordinário usado para sublinhar o banal. Em relação aos longas anteriores de Muylaert, há uma sensação de perda: vocacionada para filmar espaços fechados, a cineasta se revela menos rigorosa nos espaços abertos de "Chamada a Cobrar". Ainda assim, o filme confirma uma cineasta invulgar, justamente porque sabe filmar o banal como poucos. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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