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Neto conta história de poema dedicado por Drummond

Luís Maurício lembra histórias do avô e a gênese dos versos criados para celebrar seu nascimento, em 1953

Idealizado para festejar aniversário do poeta mineiro, Dia D tem hoje segunda edição com eventos pelo país

CADÃO VOLPATO ESPECIAL PARA A FOLHA

Hoje faz 110 anos que Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) nasceu. O Instituto Moreira Salles lançou, no ano passado, o Dia D para comemorar o aniversário do poeta e difundir a sua obra.

Este 31 de outubro de 2012 é, portanto, o segundo Dia D, e vale lembrá-lo com aquilo que o poeta escreveu: algumas das melhores linhas da literatura universal.

Os admiradores da poesia de Drummond costumam preferir os poemas que tratam da angústia moderna, do tempo, da família ou do amor nas mais diversas idades.

Há um poema, porém, que corre por fora. Ele foi publicado no "Diário Carioca", em 1953, e depois no livro "Fazendeiro do Ar", de 1955, com um título antiquado: "A Luís Maurício, Infante".

Foi escrito em uma das únicas cinco viagens que o poeta fez ao exterior -todas elas para Buenos Aires, onde a filha Julieta vivia.

Luís Maurício é o segundo neto do poeta, nascido em agosto de 1953. O poema começa assim: "Acorda, Luís Maurício. Vou te mostrar o mundo,/ se é que não preferes vê-lo de teu reino profundo".

Como aconteceu com o primeiro neto, Carlos Manuel, Drummond estava na cidade para acompanhar o nascimento de Luís Maurício, e ali escreveu o poema.

"Trata-se de um poema-batismo de vida, ou um poema de boas-vindas a um mundo nem tão bom assim", explica o professor, ensaísta e poeta Antonio Carlos Secchin.

O cantor João Gilberto conhece os 72 versos de "Luís Maurício" de cor. Um dos trechos preferidos de João é aquele que diz: "Mas seja humilde tua valentia. Repara que há veludo nos ursos".

Já o poeta Eucanaã Ferraz recita com admiração um trecho que diz: "E imagina ser pensado,/ pela erva que pensas. Imagina um elo, uma afeição surda, um passado/ articulando os bichos e suas visões".

O infante Luís Maurício é hoje um matemático quase sexagenário que, embora tenha praticamente nascido com o poema, tem muitas histórias para contar, ouvidas em família.

"Durante uma de suas visitas à casa de saúde onde nasci, num momento dado alguém percebeu que eu não estava no quarto: procura daqui, procura de lá, até que fui encontrado. Estava debaixo de um travesseiro sobre o qual Carlos estava sentado."

Os três netos de Drummond costumam tratá-lo pelo primeiro nome, e o poeta usava da mesma informalidade, dando cambalhotas para agradá-los ou fazendo caretas na hora das fotografias.

O último poema de Drummond, "Elegia a um Tucano Morto", também foi inspirado pelos netos.

Conta a história de Picasso, ave da família que vivia num sítio que precisou sofrer uma amputação, já que eles eram contrários ao sacrifício.

Um dia, encontraram Picasso morto. "Uma ave sem a perninha é um animal desnaturalizado", disse o poeta. E isso virou uma verdade familiar.

CADÃO VOLPATO é músico, jornalista e escritor, autor de "Relógio Sem Sol" (ed. Iluminuras), entre outros

Leia "A Luís Maurício, Infante"

folha.com/no1177628


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