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Crítica show
Mesmo com visual fantástico, Lady Gaga faz show cansativo
Castelo, unicórnio e vagina gigantes não resolvem apresentação arrastada e coreografada à exaustão
No mundo padronizado da música pop, Lady Gaga tenta estabelecer narrativas e universos visuais paralelos para se distinguir da massa.
Quando ela surgiu, há quatro anos, surpreendeu com uma estética que estava mais para arte contemporânea do que para entretenimento plastificado -chocou com seu vestido de carne, próteses na pele e nudez aqui e ali.
Mas ao vivo no palco no estádio do Morumbi, onde cantou para 50 mil fãs anteontem, toda essa parafernália se revela embalagem frágil para um show que se arrastou sem o impacto prometido e sem a potência que Gaga já mostrou no circo calculado do estúdio e dos clipes.
É fato que um castelo montado em pleno estádio, hologramas falantes e até um unicórnio gigante que caminha sobre o palco impressionam, mas podiam estar ausentes se Gaga falasse menos e cantasse mais, aproveitando a voz potente que mostrou ter.
Em "Born This Way", música que dá nome à atual turnê, ela simula seu próprio nascimento, saindo de uma enorme vagina, e depois dança com um exército de fetos, homens e mulheres em trajes de plástico colados ao corpo.
Essa é a música que parece plagiar "Express Yourself" de Madonna, tamanha a semelhança no ritmo e na melodia. Fora isso, a coreografia também é um "mashup" de "Vogue", da mesma Madonna, e "Thriller", de Michael Jackson, aqui transformando zumbis em neonatos sexy.
Lá pelas tantas, Gaga interrompe o show e discursa. "Não sou uma mulher, no feminino. Não sou um homem, no masculino. Não sou uma criatura do seu governo."
Seja lá o que ela for, o show teve todos os clichês básicos de qualquer pop star diante de uma multidão, como fãs subindo ao palco num momento "Xou da Xuxa" e discursos vazios sobre a paz entre os povos, o futuro do planeta, a beleza da música.
Cansou. E nem "Just Dance", em que ela brinca de escolher um look num armário imenso, para a alegria dos fashionistas, nem os hits "Poker Face", "Telephone" e "Alejandro" levantaram a plateia exausta e ensopada pela chuva no Morumbi.
Talvez um momento mais verdadeiro no meio desse mundo fantástico e coreografado era o rasgo na meia calça de Gaga, bem na nádega esquerda, e os pelos de alguns dançarinos, que apareciam por baixo das fantasias de Jesus negro ou de feto.
São os sinais de que a carne é forte e que, mesmo no mundo épico de Lady Gaga e seus dançarinos, mais vale o humano, demasiado humano, aos hologramas e visões de seres de outro planeta.
LADY GAGA
AVALIAÇÃO regular