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Em 10 anos, grupos foram beneficiados por até nove editais
Disputa por benefício criou ambiente competitivo entre coletivos da cidade de São Paulo, dizem críticos e artistas
Comissões de avaliação do Fomento tiveram rodízio de nomes a cada edição; debates foram acalorados e violentos
Cento e vinte companhias foram beneficiadas em uma década de Lei do Fomento, algumas apenas uma vez, como a Circo Navegador, e outras até nove vezes.
Cada edital chega a ter 150 projetos inscritos, e a disputa -diz Sebastião Milaré, que presidiu oito comissões julgadoras- cria um ambiente de competição entre as companhias, com frequentes reclamações sobre favoritismo.
É uma impressão compartilhada também por artistas.
"Há forte concorrência. E o fato de ganharmos muitos editais foi tratado como um demérito, como se tivéssemos ganhado ilegitimamente", diz Carlos Francisco, um dos fundadores do Folias, contemplado em nove editais.
O diretor Ruy Filho chegou a postar em seu mural no Faceboook que tem vontade de "olhar nos olhos de cada integrante [da comissão julgadora] por uma ou duas horas em silêncio profundo e dizer: 'agora me conta a verdade'".
Uma das principais críticas de Ruy Filho às escolhas diz respeito a um "direcionamento ideológico" em que são preferidas produções com olhar "assistencialista".
Mas Ruy Filho se refere não só a Lei do Fomento. Hoje, o cenário teatral é beneficiado por editais do Estado, como o Programa de Ação Cultural (Proac), e do Ministério da Cultura, como o edital Miriam Muniz, da Funarte.
Para tirar a prova, a Folha solicitou à Secretaria Municipal de Cultura a lista de comissões dos editais realizados até hoje pelo Fomento. Há rodízio frequente de nomes. A Truks, por exemplo, foi escolhida oito vezes, mas por comissões diferentes.
Milaré relata ainda que o clima de competição afeta as comissões: "Vi discussões violentas de membros defendendo seus pontos de vista", conta o crítico e ensaísta, conhecido por estudos sobre o diretor Antunes Filho.
Ao defender o modelo, Milaré fala sobre "incentivar linguagens não comerciais".
O Folias, por exemplo, nunca deixou de procurar patrocínio apesar dos editais.
"Conseguimos receber na nossa sede um gerente de marketing da indústria de automóveis. Ele gostou do trabalho, mas não conseguiu o apoio da empresa", explica Carlos Francisco.
O apoio do setor privado falhou mesmo em peças da companhia aprovadas pela Lei Rouanet, o que permitiria dedução de impostos.
Os mais insistentes podem alcançar êxito. Em 2012, cerca de R$ 42 milhões foram captados por meio da Rouanet por artistas das artes cênicas -dez anos atrás, o setor captou R$ 16 milhões.
Não foram só produções comerciais que conseguiram patrocínio. O grupo Sobrevento, fomentado cinco vezes, captou R$ 96.500 via Lei Rouanet em 2012. (GUSTAVO FIORATTI)
Colaborou MATHEUS MAGENTA