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'Destino: São Paulo' faz retrato ficcional de imigrantes na capital
Coprodução entre HBO e O2 Filmes, minissérie estreia hoje com episódio sobre bolivianos
Não atores de cada comunidade são os protagonistas dos capítulos; Alexandre Herchcovitch participa
Fabio Mendonça, criador e diretor-geral de "Destino: São Paulo", compara a produção a um disco de jazz. "São vários improvisos sobre o mesmo tema", diz.
O assunto é a imigração. São Paulo, o cenário. À primeira vista, a minissérie de seis capítulos produzida pela O2 Filmes, que a HBO exibe a partir de hoje, pode parecer documental.
Os protagonistas foram recrutados nas comunidades retratadas, o idioma é o corrente no grupo, as situações vieram de pesquisas feitas com eles: bolivianos, coreanos, chineses, judeus, argentinos, chilenos e africanos.
"Mas 'Destino: São Paulo' é ficção. Sou um apaixonado por São Paulo e fiquei pensando em histórias de relações humanas na cidade. Aí, surgiu a ideia do estrangeiro. Qual a ligação deles com São Paulo?", indaga Mendonça.
Diretor de três dos episódios, Alex Gabassi compara o trabalho com não atores ao que fazia o franco-suíço Jean-Luc Godard nos anos 1960, no despertar da nouvelle vague.
"No set de agora, eles falavam em suas línguas, tinham de buscar dentro de si as experiências para os personagens", analisa.
Independentes, os capítulos têm linguagens distintas e duração variada: entre 30 e 40 minutos. Os mais atentos verão que alguns imigrantes fazem pontas nas histórias de outras comunidades.
"O episódio sobre judeus é em branco e preto, tem uma coisa meio Woody Allen", afirma Gabassi. Na história, o estilista Alexandre Herchcovitch e seu pai, Benjamin, repetem na ficção os papéis de pai e filho. Alexandre chega de Nova York para o casamento da irmã trazendo o seu namorado, que é negro.
A saga de um neto coreano que quer realizar o desejo do avô de comer carne de cachorro traz referências pop, à la "Gangnam Style".
Já em "Sereno", que enfoca africanos, a trama sobre tráfico de droga é revestida de cores fortes e alegres. Em outro segmento, o romance entre dois chineses vendedores de tênis humaniza essa comunidade fechada.
Por fim, um triângulo amoroso descontraído entre artistas de rua argentinos e chilenos é captado com a premência da câmera na mão, outra herança da nouvelle vague.
A produção foi realizada com R$ 4,8 milhões de verba incentivada pela Ancine (Agência Nacional do Cinema).