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Filme gera debates antes da estreia nos EUA
DO ENVIADO A NOVA ORLEANSPrestes estrear nos Estados Unidos, "Django Livre" começou a gerar debates acalorados antes mesmo de ganhar as telas.
O principal é a respeito do uso exagerado da palavra "nigger" (a tradução politicamente incorreta seria "preto"), considerada nos EUA ofensiva aos afro-americanos.
No filme, há mais de uma centena de diálogos com a expressão. Um deles, entre o caubói Django (Jamie Foxx, o herói negro do longa) e Calvin Candie (Leonardo DiCaprio, fazendeiro que se diverte promovendo brigas de vida e morte entre escravos) resume bem a discussão.
Django está montado num cavalo observando um escravo recapturado.
Candie diz a Django: "Você precisa desculpar o olhar do sr. Stonesipher [capanga de Candie]. Ele nunca viu um preto como você. Já que você não quer comprar esse negrinho, não se importa que eu trate esse preto da maneira que quiser, certo?".
Django responde: "O preto é seu".
Candie, então, ordena: "Sr. Stonesipher... Deixe suas cadelas enviarem D'Artagnan [o escravo] para o paraíso dos pretos".
O blogueiro (branco) Matt Drudge, do site de notícias "Drudge Report", criticou com o uso exagerado do termo. "Não é limpo ou bonito", escreveu.
O escritor (negro) Touré, coapresentador do programa "The Cycle", da NBC, discorda: "A linguagem do filme é precisa. Eles nem ao menos estão conscientes do racismo ou da gravidade [da palavra]. Se você tira apenas essa lição do filme, é uma reação babaca e pouco inteligente a toda a situação".
"É assim que as pessoas falavam naquela época. O roteiro de Tarantino é um dos mais corajosos que já li", defende Jamie Foxx.
"Usar a escravidão como se fosse 'Gladiador' violento ou um filme de gênero é algo inédito. É um faroeste com um escravo no papel principal. Pense nisso", completa o protagonista de "Django Livre."
"O assunto é delicado", concorda o diretor Quentin Tarantino. "Trabalhamos com uma equipe com alta porcentagem de negros e um elenco de negros. Cada um deles lidou de uma maneira particular, mas o roteiro traz essas coisas à tona. Ficamos muito mais próximos."
INDICAÇÕES
O debate só não foi mais quente porque a Associação de Críticos Afro-americanos dos EUA elegeu o longa como um dos melhores do ano. A Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor também indicou o filme para seu prêmio de cinema.
Com as indicações para o Globo de Ouro de melhor filme dramático, roteiro, diretor e ator coadjuvante (Christoph Waltz e DiCaprio disputam), "Django Livre" pode chegar ao Oscar enfrentando só um preconceito, o de ser um western, gênero que não ganha uma estatueta de melhor filme há 20 anos, desde "Os Imperdoáveis", de Clint Eastwood.