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Spike Lee diz que não verá 'Django Livre'
Para diretor afro-americano, enfoque da escravidão no novo longa de Quentin Tarantino desrespeita seus ancestrais
Lee já havia criticado Tarantino pelo uso do termo "nigger" (negro), considerado pejorativo, em "Jackie Brown"
Spike Lee não viu "Django Livre", mas não gostou do novo filme de Quentin Tarantino. Lee, cuja filmografia é marcada pela temática racial, afirma que boicotará o longa por considerar ofensiva sua abordagem da escravidão.
O faroeste, que estreou nos EUA no Natal, conta a história do ex-escravo Django (Jamie Foxx), que, libertado pelo dentista e caçador de recompensas King Schultz (Christoph Waltz), vai resgatar a mulher, Broomhilda (Kerry Washington), de seu violento senhor, Calvin Candie (Leonardo DiCaprio).
Em uma entrevista em vídeo disponível no portal de entretenimento www.vibe.com, o diretor de "Faça a Coisa Certa" disse, a respeito do novo filme de Tarantino: "Não posso falar sobre ele porque não vou assisti-lo. Não vou ver. Tudo o que vou dizer é que ver aquele filme é desrespeitoso aos meus ancestrais".
O vídeo foi seguido por uma manifestação sobre o filme, em maiúsculas, no Twitter: "A Escravidão Americana Não Foi Um Western Spaghetti de Sergio Leone. Foi Um Holocausto. Meu Ancestrais São Escravos Roubados Da África. Eu Os Honrarei".
Essa não foi a primeira rusga entre os diretores. Spike Lee já havia criticado Quentin Tarantino pelo uso abundante da palavra "nigger" no filme "Jackie Brown", de 1997.
O termo, que significa "negro" ou "preto", é considerado pejorativo para parte da população afro-americana.
"Não sou contra a palavra. E algumas pessoas falam desse jeito. Mas Quentin é apaixonado por ela," disse Lee à revista "Variety". "Quero que Tarantino saiba que nem todos os afro-americanos acham que a palavra é da moda ou legal."
A crítica de Lee à abordagem da escravidão em "Django Livre" talvez não seja isolada. O tema é espinhoso, e Tarantino sabia disso.
Em entrevista à Folha, ele afirmou que não teve qualquer hesitação em abordá-lo.
"Eu sei que algumas pessoas falarão sobre o tema do filme, mas isso não é nada. Ninguém tem o poder de parar o que eu estou fazendo."