Folha de S.Paulo

Depoimento

Quanto mais bizarro o evento, mais os americanos adoram

ANDRÉ BARCINSKI CRÍTICO DA FOLHA

Não existe um povo no mundo mais doido por convenções do que os norte-americanos. E quanto mais estranha, melhor: tem convenção de fãs de "Jornada nas Estrelas", de fãs de cinema de terror, de adoradores de RPG, de colecionadores de aviões e trens de brinquedo, de donos de hamsters (OK, essa é brincadeira, mas não me espantaria se houvesse), tem convenção de qualquer coisa.

Morei nos Estados Unidos por vários anos e tive chance de ir a algumas dessas convenções. Minha experiência mais estranha aconteceu num grande encontro de fãs de terror, onde eu acompanhava o cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão, um dos homenageados.

Zé estava vestido de capa e cartola, assinando autógrafos para centenas de fãs. Em mesas próximas, havia outros astros do cinema de horror, como Gunnar Hansen, que interpretou Leatherface em "O Massacre da Serra Elétrica do Texas", e Kane Hodder, que fez o papel de Jason na série "Sexta-Feira 13".

Havia vários fãs vestidos de Leatherface e Jason andando pela convenção, que foi realizada num imenso espaço de eventos próximo a Los Angeles.

Acontece que, em um prédio ao lado, estava rolando outra convenção, só que de fãs de "Jornada nas Estrelas". E tome gente fantasiada de Kirk e Spock...

Num intervalo, Mojica disse que queria tomar um café. Fomos a uma rede de fast food que ficava entre os dois prédios. A fila do lugar parecia um baile de "halloween": tinha um Leatherface, uns dois Jasons, vários Spocks, alguns Kirks e um ou outro Freddy Krueger, além de monstros em geral. E, para completar, Zé do Caixão, claro.

A coisa ficou ainda mais estranha quando chegou Korla Pandit, indiano de um metro de meio de altura, autor de trilhas sonoras, que usava um turbante roxo com um rubi falso gigante. Korla aparece em uma cena do filme "Ed Wood", de Tim Burton.

Naqueles prédios rolavam convenções há anos, e nada mais assustava os atendentes da lanchonete.

Nem Zé do Caixão.