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Santoshi: hoje intocável, amanhã (talvez) enfermeira
Vagat Ram, 47, ganha a vida recolhendo carcaças de búfalos, vacas e cabras em pastagens e tira o couro para vender. Ganha o equivalente a R$ 12 por carcaça. Ninguém mais no vilarejo de Rama, no Rajastão, faz esse trabalho, considerado sujo.
Por ser um dalit -uma casta de intocáveis-, Vagat não pode se sentar à mesa com pessoas de outras castas nem tocar comidas, copos, pratos ou talheres. Foi assim com seu tataravô, seu bisavô, seu avô e seu pai. E ele não pode morar no vilarejo, tendo de viver em um lugar afastado.
"Se ele me trouxer um copo de água, não posso beber", diz um morador do vilarejo que é brâmane, a casta mais alta. "Nós, brâmanes, somos pessoas sagradas, tomamos banho todos os dias e não bebemos. Os dalits não tomam banho, bebem e comem carne."
Os dois filhos de Vagat também passarão a vida recolhendo carcaças. Mas a filha dele, Santoshi, tem a chance de fazer algo diferente: está no último ano do ensino médio. Por ser dalit, Santoshi tem uma bolsa do governo e estuda em um boa escola pública na cidade de Udaipur.
Mas, no ano passado, as 3.000 rupias (R$ 110) da bolsa anual não vieram. Vagat conversou com o diretor e com funcionário da escola, mas ninguém sabe dizer o que houve. Ele recebia o dinheiro diretamente deles.
Vagat Ram fez seu cartão Aadhaar e abriu conta uma conta bancária no mês passado. "Espero que agora não dê mais problema", afirma ele. "Quero que minha filha vá para a faculdade estudar enfermagem."