|
Índice
Faria Lima vai a leilão
Nova legislação muda a cobrança da outorga onerosa; especialistas temem especulação e alta no preço do m2
EDSON VALENTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Chegará às alturas quem pagar
mais. Esse será o resultado das
novas regras da Operação Urbana
Faria Lima, estipuladas pela lei
13.769, aprovada no último dia 26.
O potencial adicional de construção, almejado pelos incorporadores, será vendido na forma de certificados, negociados em leilão.
Ou seja: quem quiser construir
até quatro vezes a metragem do
terreno no perímetro abarcado
pela operação terá de
comprar Cepacs (Certificados de
Potencial Adicional de Construção), uma espécie de título cujo
valor será definido pelos lances
dos compradores (a partir de um
mínimo de R$ 1.100) e que constituirá a contrapartida da outorga
onerosa. Antes, era paga diretamente em dinheiro à prefeitura.
Horacio Galvanese, 49, coordenador de projetos especiais da Semab (Secretaria Municipal de
Abastecimento), explica que, antes, os recursos "pingavam" de
projeto em projeto -o montante
arrecadado com a cobrança de
outorga onerosa, aplicado na operação urbana, somou R$ 300 milhões em nove anos. "Agora, entrarão mais de uma só vez."
Segundo a Emurb (Empresa
Municipal de Urbanização), o
certificado poderá ser adquirido
antes mesmo de o comprador definir o terreno em que pretende
construir. Dessa forma, argumenta, os construtores poderão baixar
seus custos, escolhendo os lotes
mais baratos para empreender.
Mas especialistas do mercado
discordam. Para João d'Avila, da
Amaral d'Avila Engenharia de
Avaliações, os preços dos terrenos
na região subirão com os leilões
-o primeiro deles deve acontecer em maio. Uma outra possibilidade é a de especulação sobre os
Cepacs, hipótese aventada por
Regina Monteiro, 47, diretora-executiva do Movimento Defenda
São Paulo. "Muitos vão adquirir o
papel por um preço baixo e revendê-lo por um valor lá em cima.
Ganharão os especuladores, não o
município. A região já é saturada.
Vão esgotá-la ainda mais, ganhar
dinheiro e ir embora", afirma.
A nova lei mantém o potencial
adicional de construção definido
por outra, de 1995: um total de
2,25 milhões de metros quadrados. Ainda resta 1,31 milhão
(58%). Mas há um mecanismo
para evitar que as áreas mais povoadas sejam os alvos principais
dos empreendedores: a tabela que
converte os Cepacs em quantidade de metros quadrados de construção. "Onde já há um grande
número de edifícios, o custo de
compra é maior", diz Galvanese.
O apetite das incorporadoras
pelo entorno da avenida Faria Lima é voraz. "É uma região em que
acreditamos", define Carla Fernandes, 33, gerente de marketing
da Cyrela, cuja sede ali se localiza.
"Com a acessibilidade facilitada
[veja obras no quadro ao lado], há
potencial de crescimento", diz, referindo-se à operação urbana.
Ainda neste ano, ela começa a comercializar um prédio comercial
de altíssimo padrão (tipo AAA)
na esquina com a rua Leopoldo
Couto de Magalhães Júnior.
Índice
|