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HISTÓRIA NO SUBSOLO
Para não ter a obra embargada, dono de terreno paga estudo
Morumbi tem sítio lítico com mais de 2.000 anos
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O caso mais expressivo de estudo de sítio arqueológico na cidade
ocorreu no final de 2001 e início
deste ano, no Morumbi, onde foram encontrados vestígios de
utensílios da época da pedra lascada (veja quadro abaixo). Os objetos retirados do subsolo ainda
estão em análise, mas é provável
que tenham mais de 2.000 anos.
"Foi encontrado um importante sítio de pedra lascada, que já estava cadastrado na prefeitura desde a década de 60. Porém o proprietário não sabia de sua existência quando adquiriu o terreno",
explica a professora da USP e
arqueóloga que trabalhou no estudo, Erika Marion Gonzalez.
O proprietário Gigio Martinez,
32, confirma. Disse que ficou sabendo, por comentário de vizinhos, que seu terreno ficava sobre
um sítio arqueológico. Pouco antes de construir, ele procurou a
orientação de um amigo arqueólogo, que lhe recomendou procurar a prefeitura e o Instituto de Patrimônio Histórico Nacional.
"Tinha medo de que a obra enfrentasse problemas depois de
iniciada." Mas o arquiteto ficou
"espantado" com a falta de informação e estrutura do poder público a respeito de um patrimônio de
grande importância arqueológica. E reclamou do custo (cerca de
R$ 30 mil) que teve de pagar pelo
estudo da equipe do Museu de
Arqueologia e Etnologia da USP.
O estudo não saiu mais caro
porque a USP fez o trabalho de
forma voluntária devido ao alto
grau de interesse acadêmico.
Hoje, apenas três consultorias em
arqueologia atuam na capital,
mas seus trabalhos estão voltados
mais para análise de áreas no
interior: obras de linhas de transmissão, represas e rodovias.
"Se a regra fosse aprovada hoje,
elas não teriam capacidade de assimilar a quantidade de trabalho",
diz Pedro Paulo Funari, professor
de arqueologia da Unicamp e
da USP. Desde o final da década
de 80 e início dos anos 90, quando
começou a vigorar a legislação
federal sobre o assunto, o trabalho das consultorias aumentou.
"Tenho atualmente pelo menos
o dobro de estudos em andamento do que há dez anos", afirma
Erika Gonzalez, que, além de professora da USP, é diretora da consultoria Documento Arqueologia.
Custo variável
O preço dos estudos, outra
preocupação do mercado, é variável: depende da localização e da
complexidade do sítio. A simples
prospecção de um terreno urbano
custa em média cerca de R$ 15
mil, mas, se for preciso escavação,
sobe para no mínimo R$ 25 mil.
Depois de iniciado o estudo de
campo, o tempo de realização
também é incerto. Pode ser feito
em apenas uma semana, graças à
utilização de tecnologia de radares, em locais em que não forem
encontrados sítios arqueológicos.
Se for localizado um sítio, é
preciso realizar a escavação para
resgatá-lo e, neste caso, os trabalhos podem demorar de um mês
a três anos. Os prazos mais prolongados ocorrem em locais de alto valor arqueológico ou em terrenos de maior complexidade.
"No sítio do Capão, utilizamos o
radar de penetração no solo, conhecido como GPR, e demoramos cerca de 30 dias no trabalho de campo", explica o arqueólogo
Paulo Zanettini. O GPR realiza escavações virtuais a cada dois centímetros na área analisada e aponta locais que possuem material de
provável interesse arqueológico.
Nesses pontos, é realizada uma
escavação que utiliza instrumentos simples de engenharia. As
ferramentas mais usadas são as
pás. Em geral, a profundidade da
escavação não ultrapassa 1,5 metro e por isso não há risco de danificar o subsolo.(ASo)
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