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O George Orwell de cada um
Roberto Dias
de Nova York
Muita gente concorda em dizer que
George Orwell é moderno e diz
muito sobre os EUA de hoje, e a internet
está repleta de discussões sobre a atualidade do autor. Cada um, porém, atualiza
o texto de "1984" à sua maneira.
Calvin Smith, pesquisador da Universidade da Califórnia, em Berkeley, por
exemplo, criou uma "máquina" para traduzir as notícias reais para os padrões da
"novilíngua", a linguagem que serve aos
propósitos do Grande Irmão. Sua idéia
era mostrar que não precisou fazer muito para chegar lá: apenas substituiu alguns dos nomes, como EUA por Oceania. "O resultado foi muito perturbador.
Há similaridades atordoantes entre a retórica do Ministério da Verdade e os porta-vozes do governo em assuntos como o
Iraque, a Al Qaeda e a perda de liberdades civis após o 11/9", diz.
Do outro lado do país, em Massachusetts, na costa leste, o professor Thomas
Cushman, do Wellesley College, organizou no mês passado um grande seminário sobre o centenário de Orwell.
Sua conclusão: "Acho importante que
não se façam comparações baratas entre
Bush e o Grande Irmão". Em sua opinião, "1984" é importante por causa "das
disputas entre Bush e a esquerda". A "esquerda", diz, divide-se entre os contrários à ações de Washington e a parte
"que entende a necessidade de lutar contra o fascismo" -no caso, as organizações terroristas. Segundo ele, o livro criticava a esquerda que não se importava
com as práticas do stalinismo.
Já Jacob Levich, da Stonybrook University, em Long Island, afirma: "Há
controvérsia sobre Orwell porque tanto a
direita quanto a esquerda tentam usá-lo
como argumento. A questão é se lemos
Orwell como um fabulista ou um profeta". Levich prefere o segundo grupo:
"Quem o lê como um fabulista diria que
em "1984" ele estava descrevendo a União
Soviética de 1948. Hoje é muito mais útil
lê-lo como um profeta, antecipando o
império dos EUA de 2003 em diante".
A tal profecia, para quem se põe no segundo grupo, apareceria no discurso de
guerra permanente contra o terror. "Há
conexões óbvias. Ele fala sobre a manipulação popular pela linguagem, da criação de tensão e medo para que a população seja manipulada. E sobre a necessidade constante e urgente de suporte do
público", diz Simon Davis, diretor da
Privacy International, organização de
defesa dos direitos humanos.
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