|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
+ gilbertobraguianas por Barbara Gancia
As novelas de Gilberto Braga sempre
têm lances comuns, que são marca
registrada do autor:
Arrivismo legitimado - Casar para subir
na vida não é expediente de heroína que
se preze? Bobagem. Em "Dancin" Days",
apesar de apaixonada pelo diplomata
arrependido Cacá (Antonio Fagundes),
Júlia Matos (Sônia Braga) aceita se casar
com o ricaço Ubirajara (Ary Fontoura).
Maria de Fátima (Glória Pires), um dos
personagens principais de "Vale Tudo",
odeia a pobreza e acha que qualquer
método para subir na vida é lícito. Por
exemplo, vender a única propriedade da
família -a casa onde mora sua mãe- e
fugir com o dinheiro.
Vingança é comida congelada - Em
"Louco Amor", Luiz Carlos (Fábio Jr.) é o
filho da empregada do embaixador, pai
de Patrícia (Bruna Lombardi). Ele ama
Patricinha, mas a mãe dela proíbe o namoro. Na festa de 17 anos da filha, para
afastar o pé-rapado, a embaixatriz o escala para estacionar os carros dos convidados. Revoltado, ele solta os cachorros
(literalmente), que invadem a festa e
atacam o dono da casa. Em "O Dono do
Mundo", desvirginada pelo cirurgião
plástico Felipe Barreto (Antonio Fagundes), a professorinha Márcia (Malu Mader) consegue mandá-lo para a prisão.
Viradas de mesa espetaculares - A ex-presidiária Julia Matos (Sônia Braga) se
casa com Ary Fontoura e vai morar na
Europa. Na volta, é a mulher mais descolada do Rio de Janeiro e acaba fazendo o
Brasil inteiro aderir ao lurex e ao hábito
peculiar de usar meias "rede de pesca"
com sandália. Em "O Dono do Mundo",
Raquel Accioly (Regina Duarte), enganada pela própria filha, ressurge das cinzas
como empresária. E a alcoólatra Heleninha (Renata Sorrah) larga a manguaça,
se reergue e também vira "business woman".
Sangue não é água - Quem não se lembra da cena antológica em que as irmãs
Julia Matos (Sônia Braga) e Yolanda Pratini (Joana Fomm) fazem as pazes em
"Dancin" Days", depois de passar a novela inteira às turras? Em "Vale Tudo", Raquel Accioly e a filha Maria de Fátima
também atam e desatam.
"Gosford Park" - Se o serviçal não transar com o patrão, não é novela de Gilberto Braga. Nas suas crônicas de costume,
a classe média costuma ir ao paraíso e os
pobres acabam sempre nos melhores
salões da cidade. Em "Louco Amor", Renata Dumont (Tereza Raquel) é contra os
casamentos de seus familiares com pessoas de classes sociais inferiores. Só na
sua família, lida com o romance entre
sua filha e o filho da empregada (Bruna
Lombardi e Fábio Jr.), da jornalista pobretona Cláudia (Glória Pires) com seu filho Lipe (Lauro Corona) e de seu cunhado
(José Lewgoy) com a manicure Gisela
(Lady Francisco).
Abaixo o maniqueísmo - Nos folhetins
de Gilberto Braga, ninguém é totalmente vilão ou mocinho. O cirurgião plástico
Felipe Barreto, de "O Dono do Mundo", é
charmoso e bem-sucedido, mas egoísta
e ambicioso. Aposta com um amigo que
vai tirar a virgindade da noiva de um
funcionário antes do casamento e ganha a aposta. Depois de todas as falcatruas, Maria de Fátima, em "Vale Tudo",
não é punida. Termina a novela se casando com um príncipe italiano. Na
mesma novela, depois de dar um grande golpe, Marco Aurélio (Reginaldo Farias) sai de cena dando uma banana para as câmeras.
Jorginho Guinle - Em "Água Viva", Nélson Fragonard é um falido que finge ser
rico. Stela Simpson (Tônia Carrero) é outra aparente milionária que faz de tudo
para esconder a penúria de seu saldo
bancário.
Perguntas que não querem calar -
Sempre rola alguma, como: quem matou Miguel Fragonard? Quem matou
Odete Roitman?.
Chique no último - Gilberto Braga é um
dos poucos autores de novela que sabem de cor e salteado como os ricos se
portam na vida real. Tanto é que introduziu em seus dramas consultorias para
ensinar os atores a agir e se vestir como a
grã-finada.
Brasil, mostra a tua cara - Entre os temas recorrentes do autor estão a corrupção e o jeitinho brasileiro. Será que podemos esperar, em "Celebridade", que ele traga à tona temas como a doação de
jóias caninas para campanhas do governo ou o dinheiro enviado para fora do
país por empresários de futebol?
Texto Anterior: O dia que o Brasil esqueceu Próximo Texto: Os limites do melodrama Índice
|