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+ Comportamento
Sexo fora da cidade
Emblemática, noite gay de Nova York sofre
com o fechamento de clubes
pela prefeitura, com a falta de
interesse das novas gerações
e aponta para o declínio do sexo público
"As pessoas estão obcecadas demais com suas aparências; todo mundo quer fingir que é modelo"
"Nova York ficou para trás das outras megalópoles; o problema é que, agora,
nos tornamos pudicos"
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STEVE WEINSTEIN
Na noite anterior ao
feriado do Memorial Day [26 de
maio, em homenagem aos combatentes de guerra norte-americanos], havia algumas centenas
de homens lotando o piso superior de um edifício em um
bairro na região central de Manhattan, em Nova York.
Um DJ cuidava do som, em
um dos cantos, e bartenders
despejavam doses de vodca em
copos de papel.
Alguns homens -a maioria
dos quais mais velhos- haviam
deixado as roupas na chapelaria, mas os mais jovens estavam vestidos.
Em alguns cantos escuros,
havia sujeitos fazendo sexo
oral, e alguma ação anal; mas
em termos gerais a cena se parecia muito com qualquer fim
de semana de feriado em um
bar gay do East Village [também em Nova York].
O mais notável sobre a festa
não era que houvesse algumas
poucas pessoas -um tanto
perfunctoriamente- em ação.
O mais interessante era o fato de que tanta gente não estivesse interessada em nenhuma
forma de conexão erótica. A
despeito do calor -nada de
ventiladores e muito menos ar
condicionado- os go-go boys
nus e o álcool, as pessoas pareciam satisfeitas em papear.
E a maioria parecia ignorar
completamente os episódios
isolados de sexo que aconteciam em alguns pontos da sala.
Em 2002, escrevi uma reportagem de capa para a edição
Gay Pride [orgulho gay] da "Village Voice", sob o título "O Retorno do Sexo Público".
Mencionei a explosão no número de lugares dedicados ao
sexo, de festas a clubes privados e bares dotados de salas
privativas. "Depois de anos de
preocupação com a Aids e de
repressão governamental, o sexo público entre os gays está
maior e melhor do que nunca",
foi o que escrevi.
Seis anos parecem ter feito
toda a diferença.
Apatia
A prefeitura conseguiu fechar todas, exceto duas, das
saunas e todos os clubes de sexo conhecidos de Manhattan,
além de autuar bares, clubes e
festas privadas onde inspetores
tenham flagrado qualquer forma de sexo homossexual.
Os poucos empresários que
continuam na ativa se queixam
da apatia e da mudança nas
prioridades entre os gays mais
jovens.
Daniel Nardicio, o promoter
que organizou a festa no feriado do Memorial Day, se considera um guerreiro na campanha por levar a sacanagem às
massas. Sua fama repousa sobretudo nas festas TigerBeat
-realizadas no Bowery [em
Nova York], e que requeriam
que os participantes deixassem
as roupas na chapelaria.
A cidade pôs fim à TigerBeat,
em 2004, por ordem do Departamento de Saúde e Higiene
Mental, mencionando queixas
quanto à atividade sexual.
Como todo mundo hoje em
dia, Nardicio atribuiu a falta de
envolvimento público à internet. Mesmo assim, acrescenta,
"se as pessoas desejassem festas sujas e obscenas em Nova
York, elas aconteceriam. Mas
ninguém mais quer".
Diferença geracional
Se existe uma diferença entre
os homens gays da geração pós-Stonewall [conflito entre freqüentadores do bar gay Stonewall, em Nova York, e a polícia,
em 1969] e seus seguidores
mais jovens, é que estes parecem mais interessados em
eventos fashionistas. "As pessoas estão obcecadas demais
com suas aparências", queixa-se Nardicio. "Todo mundo quer
fingir que é modelo."
Para alguns essa nova atitude
talvez caracterize uma progressão saudável e natural -da geração que teve de lutar pelo seu
direito à diversão a uma nova
geração cuja luta é pelo direito
ao casamento homossexual e o
direito de servir nas Forças Armadas sem ocultar suas preferências sexuais.
Mesmo na internet, os jovens
estão ao menos tão interessados em sites de redes sociais como o MySpace quanto em encontrar parceiros no Manhunt [site de encontros para homens]. "Os jovens de 21 anos
querem namorar", aponta Nardicio. "Não sentem ódio por
eles mesmos."
Ainda assim, não resta dúvida de que o governo do prefeito
Michael Bloomberg [eleito pelo
Partido Republicano, hoje independente] não vem sendo
exatamente positivo em relação ao sexo.
Os rumores quanto à política
do governo municipal para as
questões sexuais explodiram
em janeiro, quando um repórter do "Gay City News" obteve
uma cópia de um memorando
interno da prefeitura que recomendava ao comissário de saúde ação agressiva contra os clubes de sexo, de modo a fiscalizá-los de mais perto ou a fechá-los de vez.
Depois que o conteúdo do
memorando vazou, funcionários da prefeitura vêm se contradizendo sem parar sobre o
assunto.
Mas o fato é que os três mais
conhecidos clubes de sexo de
Manhattan -El Mirage, Studio
e Comfort Zone- foram fechados: o El Mirage dois anos atrás
e os dois outros, muito mais recentemente. A Wall Street Sauna fechou em 2004, o que deixa
a cidade com apenas duas casas
do gênero, o East Side Club e o
West Side Club.
Bares como Cock, Eagle, Slide e Boysroom foram autuados
por diversas violações. O Mr.
Black, talvez o mais popular
dos pontos de encontro noturno dos gays mais jovens de Nova York, foi fechado no ano passado porque supostamente havia comércio de drogas no local.
Tudo isso provocou indignação em alguns dos gays da cidade -a maioria dos quais mais
velhos.
O acadêmico Eric Rofes, que
escreveu extensamente sobre
os aspectos positivos do sexo
gay antes de morrer, em 2006,
discursou apaixonadamente no
LGBT Center, dois anos atrás,
sobre a necessidade de interações aleatórias e de pontos de
encontro na era da internet.
Ele lastimou o "desaparecimento ou diminuição dos locais para sexo", como as livrarias gays (em que os homens podiam fazer sexo em cabines
reservadas) e a "privatização de
culturas sexuais", como a dos
adeptos do couro e do sadomasoquismo, que são vistas como
desgastadas ou esgotadas pela
nova geração de gays.
É certo que as pessoas continuam a fazer sexo. Mas, se
compararmos a situação atual
aos bons e velhos dias de 2002,
temos uma festa móvel e mais
clandestina.
Uma recente edição da "HX",
uma revista semanal que oferece o calendário das festas gays,
mencionava 24 clubes privados, do New York Bondage
Club ao Foot Friends (podólatras), passando pelo Golden
Showers of America (esportes
aquáticos, ou seja, urina), Bear
Hunt NYC (fãs dos homens
corpulentos e hirsutos) e
Thugs4Thugs (exclusivamente
para negros e latinos).
E estamos falando apenas
dos clubes mencionados. Outros, como o New York by
Night, que se reúne mensalmente em um apartamento em
Hell's Kitchen, e o NYC Jock
Party, em Brooklyn, se limitam
a e-mails e referências.
Os defensores de festas como
essas apontam para o isolamento e o medo como causas
primordiais de infecção por
HIV. Fechar os lugares em que
as pessoas podem fazer sexo,
argumentam, é como fechar
bares porque as pessoas se embriagam.
A Lei Seca não funcionou, e o
mesmo se aplica a fingir que todos os gays se mudarão para a
Califórnia para casar, se não
puderem fazer sexo grupal.
Fiscais sexuais
Perry Halkitis, professor de
psicologia na Universidade de
Nova York, compara essas tentativas ao jogo de fliperama
"Whack-a-Mole": "Quando você acerta uma marmota, aparecem outras", disse em um fórum público há alguns meses.
Mas há marmotas que não se
levantam mais. Em uma ruazinha anônima na parte sul de
Hell's Kitchen, há algumas semanas, um antigo clube de sexo
promoveu uma "venda de garagem". Itens como uma cinta
suspensa com capacidade industrial, roupas de couro e
brinquedos sexuais foram vendidos pelo proprietário (que
pediu que seu nome não fosse
mencionado).
Ele disse que fornecia camisinhas e lubrificante aos clientes, mas que não podia, ou não
queria, transformar seus funcionários em fiscais sexuais.
"Se você vai a um clube e há
camisinhas gratuitas, não é melhor do que ir à casa de alguém
onde talvez não haja camisinhas?", pergunta. "As pessoas
levavam camisinhas ao sair.
Quando fechamos, as pessoas
continuaram a fazer sexo. Só
terão de procurar mais."
Um dos compradores no leilão era Daniel Nardicio, que adquiriu holofotes de teatro para
possíveis festas.
Mas não pretende continuar
no ramo: agora apresenta um
programa de rádio na internet
em um site orientado ao East
Village e planeja uma linha de
moda -roupas de baixo que
trazem o número de telefone
do usuário impresso.
Nova York, suspira Nardicio,
ficou para trás das outras megalópoles. "Todas as outras cidades têm mais sexo acontecendo", diz. "Amo Nova York.
Não suportaria viver em outro
lugar. O problema é que não há
motivação agora, nos tornamos
pudicos."
Mike Peyton, promoter conhecido na cena de fetichismo,
acredita que continue a existir
desejo por sexo ousado, em público, em ambientes privados
ou on-line. "Nós fomos os pioneiros; competimos contra
qualquer um", diz.
"Não é apenas sexo -é expressão erótica. É difícil ver tudo isso acabar. Nova York foi,
um dia, o baluarte do sexo completamente aberto. Agora isso
se foi."
A íntegra deste texto saiu no "Village Voice".
Tradução de Paulo Migliacci .
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