São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002 |
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FILOSOFIA por Oswaldo Giacoia Jr. 1. Três séculos depois de partilhado o espólio crítico kantiano, a remissão incontornável da filosofia à (sua) história, atuando como centro de gravitação, colocou em órbita comum a reflexão sobre as condições lógico-gramaticais do conhecimento verdadeiro e o questionamento sobre o campo atual das experiências possíveis. Ou seja, abriu-se um horizonte comum para analíticos e continentais, bem como para os seus herdeiros. 2. Desse modo, tornou-se plausível afirmar que a reflexão sobre os limites da linguagem é uma via privilegiada para a colocação dos mais importantes problemas filosóficos atuais. 3. O dogmatismo irrefletido continua sendo o ópio da filosofia. Contra essa modalidade de auto-ofuscamento, a potência irresistível do humor e da ironia são os melhores antídotos. Mesmo desperta do sono dogmático, a gravidade filosófica ainda tem dificuldades com o riso e o balanço. 4. Se é verdade, como pensava Nietzsche, que o filósofo tem que encarnar a má consciência de seu tempo, então toda autêntica filosofia é congenitamente política, pois ela realiza a liberdade no plano do pensamento. 5. Auto-reflexão e (auto) crítica permanentes são a disciplina da racionalidade para pensar contra si mesma; ao fazê-lo, ela obedece ao incondicional impulso emancipatório que está na raiz da vocação filosófica. 6. Na irreversível "escalada planetária da tecnologia", a crise da razão pós-metafísica não deve ser uma força inibitória, mas um estímulo poderoso para a reflexão responsável sobre a pluralidade de sentidos para a aventura humana na história. 7. Por isso mesmo, honestidade, autenticidade, solidariedade e grandeza não são valores despachados da agenda filosófica pelo untuoso autocomprazimento das narrativas pós-modernas -eles continuam a se impor como exigências cruciais da filosofia. 8. À vocação mais genuína do pensamento filosófico repugna a ortodoxia doutrinária de receituários heterônomos, quaisquer que sejam eles. Oswaldo Giacoia Jr. é professor livre-docente de filosofia da Universidade Estadual de Campinas, autor de "Nietzsche" (Publifolha) e "Labirintos da Alma" (ed. da Unicamp). Texto Anterior: Religião Próximo Texto: Ecologia Índice |
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