São Paulo, domingo, 16 de março de 2003 |
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apocalypse now the horror... POR HAROLDO DE CAMPOS o megacowboy vestindo uma armadura de carapaças de armadillo à prova de tiro divide o mundo em adeptos do mal e cruzados do bem (em sua caixa craniana um vozerio de apostas ruge em torno de uma briga de cascavéis) o macrovaqueiro do bem revestindo uma couraça de raios lazer à prova de bazukas não ouve o clamor dos pais da pátria ("o jovem povo de vanguarda", sousândrade) ignora a biblioteca de jefferson nas estantes lavradas de monticello: jefferson ele próprio fora o arquiteto de sua mansão enquanto se correspondia com humboldt e outros notáveis da época - uma época (dizem) em que se chegou a pensar em adotar o grego clássico (em vez do inglês) com idioma da nova república: -que antecipou a revolução francesa -que inspirou os libertadores da hispano-américa e os inconfidentes de minas o megamacrosuperherói do bem não está interessado em ouvir mais nada nem repara quando martin luther king apresenta afro-condolências a uma afro- -americana condoleezza verde-hirta ferrúgeo-parda como a estátua da liberdade (vista de perto) o senador byrd robert byrd da virgínia do norte um filho de mineiros de carvão em seu terceiro mandato (um membro do "establishment" porém decente fiel à memória dos patriarcas) discursa alertando o senado: por três vezes apela aos pro-homens da república por três vezes o senado cala (nem uma linha na grande imprensa americana sobre o discurso do byrd) o supermacromegacowboy vestido de "mariner" chegou ao limite seus olhos azuis são um frio risco de aço: basta de onus onerosas e inoperosas! basta de franceses amolecidos e decadentes e de alemães desleais! (vênias dadas ao trêfego blair e aos dois portavozes de eurodireita: o asinino aznar ostentando as medalhas do generalíssimo e o mafioso berlusconi com bufos esgares de mussolini) azuis os dois olhos são agora um único risco de aço o dedo no comando está prestes a apertar o botão o ar tem um ataque cardíaco a primeira bomba como um ovo de assombro tomba (ali onde foi o zigurat de babel ali onde a rainha semíramis passava tardes amenas e odorantes em seus jardins suspensos) Haroldo de Campos é poeta e tradutor, autor de, entre outros, "A Máquina do Mundo Repensada" (Ateliê Editorial) Texto Anterior: Para Miguel Reale, estado de exceção "não existe" Próximo Texto: Paradoxos dos direitos humanos Índice |
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