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MOACYR SCLIAR
O autor
Escolha dificílima, esta,
comparável à "Escolha de Sofia",
de William Styron, verdade que
muito mais agradável.
Estamos diante dos dois
gigantes de nossa literatura, e,
ainda que haja entre ambos
muitos pontos em comum, a
originalidade de cada um
dificulta tremendamente o
cotejo. Machado, até por sua
biografia, que incluiu uma difícil
e sofrida infância, mergulhou
mais profundamente na
condição humana.
Rosa, por outro lado, é um
inovador, um escritor que
revolucionou a maneira de
narrar. Em matéria de
aproximação ao Brasil, ambos se
equivalem, variando o cenário e
os personagens: o Rio de
Machado tem uma contrapartida
no "Grande Sertão" de Rosa.
Mas, se eu, digamos que sob
ameaça de um revólver, tivesse
de escolher, ficaria com
Machado de Assis (implorando
perdão a Rosa), talvez mais por
uma questão de afinidade
pessoal do que por qualquer
outra razão.
A obra
De novo, uma escolha difícil,
sobretudo em se tratando de um
escritor que tem uma obra tão
grande e diferenciada como é o
caso de Machado. Como
comparar, por exemplo, seus
contos com seus romances?
Mas eu ficaria com "Dom
Casmurro", não só pelo desafio
que coloca ao leitor, como
também por combinar um
aspecto universal, a questão do
ciúme, com uma esplêndida
descrição do clima emocional do
Rio em sua época. É uma
verdadeira genealogia de um
traço do caráter brasileiro que
Machado faz, e o faz de forma
brilhante.
MOACYR SCLIAR é escritor e colunista da Folha , autor de "A Majestade do Xingu" (Companhia das Letras).
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