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Os ouvidos de cada um
Na fábula do grego Esopo, que viveu entre os séculos 7º e 6º a.C., um
lavrador decide vender seu burrico
e leva-o à feira, acompanhado de
seu filho. Os dois seguem a pé, puxando-o pelo cabresto, para que o
burro chegue descansado. Lavradores e mercadores que os vêem
passar sucedem-se em reclamações: uns julgam que estão fazendo
penitência, o que leva o pai a ir
montado no animal. Algumas mulheres consideram desaforo o menino seguir a pé, e o pai faz o filho
montar na garupa.
Outros exclamam que "o pobre
animal já nem fôlego tem", então o
lavrador decide deixar apenas o filho montado, seguindo a pé. Um
outro ironiza tratar-se de um príncipe seguido de seu lacaio. "Não
podemos dar ocasião a tais afrontas; filho, carreguemos o burro às
costas." Assim fazem e alguns rapazes desatam a rir diante da cena. "Qual dos três é mais burro?",
perguntam. "Sou eu, responde o
lavrador, "que por todo o caminho
dei ouvidos a cada um."
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