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Técnicas de masturbação entre Batman e Robin
Leia abaixo trechos do livro de Efraim Medina Reyes
"Tinha pouco contato com aquela
gente, na verdade ninguém me dirigia a palavra (tampouco os via falar
entre eles). Para mim era estranho
(em Cidade Imóvel a única coisa
que se mexe são as línguas), mas
propício. Não queria complicações
com fofocas de inquilinos. As cartas
de Marianne continuavam chegando, cada vez a entendia menos. (...
Voltei para o piano, talvez dê um
concerto com Melão e outros músicos pós-modernistas. Você pode
conseguir alguma coisa grande só se
destruir o Deus Arte-Amor). Pensei
em escrever de volta e depois decidi
que ela, o açougueiro e suas presunções de artistas podiam ir para o inferno.
Estava maltratado, mas escrevia
com vontade (isso sempre foi um
bom augúrio), a onda de crimes
continuava de vento em popa, na
rua todos se olhavam com receio.
Ao voltar do trabalho e da escola, as
famílias se cumprimentavam: voltar vivo para casa tinha virado uma
façanha.
Na verdade, não estava certo de
que aqueles trechos vagamente relacionados fossem um romance,
mas pelo menos não cabiam no modelo clássico do anti-romance. Meu
desejo era fazer uma história fragmentada em mil pedaços (um quebra-cabeça minimalista de idéias,
histórias, diálogos de supermercado, publicidade etc.): uma desordem medida e eficaz. Debrucei-me
na janela: a última bomba tinha estourado havia menos de uma hora,
a casa estremeceu e os vidros de todas as janelas saltaram em cacos. A
menina de 15 anos suicida e sua mãe
correram rua abaixo, seguidas de
perto pela cadeira de rodas. Agora
tudo parecia calmo."
"Nem sempre uma ejaculação
(dormindo ou acordado) tem origem sexual. Eu, por exemplo, fico
excitado com a letra A e tive sonhos
úmidos por causa dela: me vejo penetrando-a, a luxúria a transforma
num V, suas longas extremidades
me apertam. Digo para ela ficar de
barriga para baixo e já é um ardente
W e então a imagem se dissolve e
sobra o A numa placa de rua (será
que isso é um pecado horrível?). A
fobia de Deus pelas secreções é evidente: nos fez de um impessoal
monte de barro, fez a mulher de um
osso e para engendrar seu único filho optou por um asséptico e frio
sopro espiritual. De qualquer modo, opino que levantar às 3h16 da
madrugada para lavar um lençol já
é castigo suficiente, não precisa ainda por cima jogar-lhe um conflito
teológico."
"Depois de tantas carícias o que fica é uma cova, um grito encerrado
para sempre. O sexo borbulha como um copo cheio de ácido. O final
de uma aventura traz desolação, de
boca em boca você se perdeu, meu
coração, e agora tem um anseio, e
agora você é tão abstrato que ninguém saberá o que fazer com você,
e, diabos!, isso dói (desculpe falar
comigo mesmo na sua presença e
que acabe sobrando um pouco para
você). Como raios cheguei aqui, no
fundo desta noite equinocial? Doem
meus olhos de tanto procurar sua
imagem no vazio para bater uma
punheta. Não é patético?"
"Modelo de divertimento:
Menon - Você acha que tem que
bater em toda mulher?
Sócrates - É claro que sim.
Menon - Então como eu faço para
diferenciá-las?
Sócrates - Simples, Menon, bata
em algumas com a mão aberta."
"O assunto de meu pai virara uma
obsessão para Flog. Minha mãe lhe
contara sua versão da história, mas
ela queria saber a minha.
- Eu tinha quatro anos, Flog.
- Alguma coisa você deve lembrar...
Fecho os olhos e caio por um túnel
que termina num pátio vizinho ao
mar, num canto do pátio tem um
homem fazendo a barba. Minha voz
chega do fundo do túnel e não a reconheço: tinha um desses antigos
aparelhos de barbear Gillette, as lâminas eram grandes e de formato
muito bonito. Depois que enfiava a
lâmina tinha que aparafusar o aparelho, suas mãos eram compridas e
escuras por causa dos pêlos, que tinha nos dedos também. Pensando
bem, eram muito bonitas. Usava
uma mão para jogar a espuma e a
outra para o aparelho. Era um trabalho minucioso e apaixonante
porque o mínimo erro custava sangue. Abro os olhos e vejo as lágrimas de Flog através das minhas e
ela me abraça e nossas lágrimas se
confundem.
- Sente muita falta dele?
Sinto a dor dentro de mim, uma
dor gorda que pesa dentro e queria
deixá-la sair, mas não cabe pelo vão
de minha alma e fica ali entalada e o
ar começa a me faltar. Peço a Flog
que me ajude, mas não ouço minha
voz... Do jeito que posso, chego até
o banheiro e ajoelho em frente à
privada para vomitar. Flog se agacha ao meu lado e bate nas minhas
costas. Vomito até cuspir sangue e
então abaixo a tampa e o rodamoinho de água engole toda a imundície e a dor fica menor, mas sei que
ainda continua dentro."
Tradução de Luís Reyes Gil.
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