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Ex-poupador encara risco e abre negócio
Para compensar menor rendimento de aplicações financeiras, investidores decidem apostar em empreendimentos
Novatos devem guardar recursos para se manter por ao menos dois anos, tempo necessário para começar a ter lucros
O consultor financeiro Erasmo Vieira, 45, não tinha o hábito de arriscar. Guardava a maior parte do dinheiro que sobrava em aplicações consideradas seguras, como poupança e títulos públicos.
Com a recente trajetória de queda da taxa básica de juros, ele passou a se sentir insatisfeito com o rendimento dos investimentos.
"Está ficando mais difícil ter aquela rentabilidade de antes, quando a pessoa tinha um dinheiro guardado na poupança e vivia da renda. Agora mal se consegue vencer a inflação", diz.
Surgiu, então, o incentivo de abrir o negócio próprio: um restaurante de comida chinesa em Belo Horizonte, chamado de UAI China.
Segundo Vieira, a intenção é conseguir um rendimento extra, com o objetivo de garantir a sua aposentadoria.
RISCO CONTROLADO
Como Vieira, outros empreendedores decidiram assumir mais riscos do que estavam acostumados para compensar a menor rentabilidade de aplicações financeiras, afirma João Carlos Natal, consultor do Sebrae-SP.
Para que o risco compense, o empreendimento deve gerar um retorno proporcional ao risco do novo negócio (leia texto ao lado).
Natal também diz que quem for começar a empreender com dinheiro poupado não deve investir tudo na empresa. Ele considera importante reservar recursos para se manter por pelo menos dois anos --tempo médio para que o negócio dê retorno.
Para diminuir as chances de perda de parte das reservas, Valter Police, planejador financeiro certificado pelo IBCPF (Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros), diz que é importante que o empresário faça um plano de negócios destacando os seus desafios.
"Quando você conhece o seu inimigo, é mais fácil derrotá-lo ou até não entrar na briga", afirma Police.
FRANQUIAS
Uma opção para diminuir os riscos de um empreendedor estreante são as franquias. Para Natal, do Sebrae-SP, as vantagens da franquia estão no fornecimento de informações que o franqueador dá a seus franqueados, além dos treinamentos e da possibilidade de atuar com uma marca conhecida.
Foi a opção de Demétrio Holanda, 41, que abriu uma franquia de restaurantes da marca China House na zona sul de São Paulo.
Depois de guardar em previdência privada 25% do que recebia trabalhando na auditoria da Bolsa paulista durante seis anos, Holanda deixou o emprego e passou a investir em ações em 2008.
Sem encontrar um trabalho que o satisfizesse, optou por abrir uma franquia. Como capital inicial, usou 50% dos recursos que tinha investido mais um empréstimo familiar em 2009.
"Achei a metodologia interessante, a forma como funcionavam as entregas, a comida semipronta. Estávamos em um momento de crise, mas as pessoas não iriam deixar de comer", afirma.
OPORTUNIDADE
Mario Galvão, 28, também trocou o investimento em ações para abrir uma empresa. A GoHouse, criada em abril de 2012, atua com locação de apartamentos mobiliados para temporadas no Rio de Janeiro.
Antes de abrir a empresa, Galvão trabalhava como analista de investimentos para uma gestora de ações. Ele diz que, para iniciar a empresa e sair do emprego, estudou o mercado por mais de um ano.
"Você tem uma demanda muito grande de apartamentos para turistas que não querem ficar em hotel e de expatriados que vêm para cá trabalhar e levam um tempo até ter uma casa aqui", diz.
Com 350 apartamentos disponíveis para locação no momento, Galvão pretende chegar a 1.000 no final do ano.
Ele reconhece, no entanto, que o seu negócio deve demorar pelo menos dois anos para dar retorno. Nesse período, Galvão pretende continuar reinvestindo no crescimento da empresa.