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Análise
Com deficit, país agora tem reservas para defender câmbio
JOSÉ FRANCISCO DE LIMA GONÇALVES ESPECIAL PARA A FOLHADepois de o Brasil ter superavit nas transações correntes, de 2003 a 2007, voltamos a acumular deficit. Em 12 meses, atingiu US$ 67 bilhões.
Como o período de superavit foi complementado pelo afluxo de recursos estrangeiros, foi possível acumular formidável nível de reservas.
Assim, diferentemente da experiência passada, o país entra em período de deficit, mas tem reservas para defender a taxa de câmbio na hipótese de não haver financiamento voluntário do exterior.
Preocupa a deterioração da balança comercial --mais por queda das exportações do que por alta das importações.
As perspectivas para o comércio são incertas.
De um lado, a disponibilidade de certos produtos neste ano é maior do que em 2012.
De outro, a incerteza sobre a recuperação da economia mundial cresce e pode ameaçar a melhora da balança.
A conta de serviços segue negativa: as viagens internacionais e os aluguéis de equipamentos chegam a US$ 35 bilhões em 12 meses, quase três vezes o saldo comercial.
Com um saldo negativo de quase US$ 40 bilhões em 12 meses, a conta de rendas (remuneração de investimentos e financiamentos externos) completa o deficit de US$ 67 bilhões nas transações correntes, algo nunca visto. Como proporção do PIB, porém, está abaixo de 2,9%, melhor do que nos velhos tempos.
O financiamento via IED (investimento estrangeiro direto), embora acima de US$ 60 bilhões ao ano, não tem sido suficiente para cobrir o deficit. E ele se mantém graças ao investimento em carteira, que é mais volátil.
Mais incerteza surge quando se considera a saída de lucros e dividendos --que sugere melhora da economia. Mas seu comportamento tende a reproduzir os de 2008 e 2011, quando a busca de segurança imperou e as saídas chegaram a US$ 25 bilhões por ano.
Em suma, as contas externas seguirão dependendo da dinâmica da economia global e das respostas do governo às dificuldades envolvidas no ajuste das economias centrais.