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Alugar pode ser mais barato que comprar
Consultores afirmam, no entanto, que valores intangíveis devem ser levados em conta na hora da decisão
Momento de vida, incertezas geográficas e familiares e perfil da pessoa são fatores que devem ser considerados
Com o crédito mais fácil, uma dúvida é recorrente na vida de quem procura um lugar para morar: financiar ou alugar um imóvel?
Pela ótica financeira, em geral, o aluguel costuma ser mais barato do que a parcela do financiamento, segundo especialistas, tornando-se a opção mais interessante para o bolso.
Especialistas afirmam, no entanto, que, quando se trata de um imóvel, há valores intangíveis que precisam ser considerados na decisão.
Um é a a fase da vida. Se há muitas incertezas --possibilidade de ter filhos, de mudar de trabalho e até de cidade ou país--, o aluguel é indicado, pois a mobilidade é maior.
Nesse caso, a modalidade não precisa ser vista como um desperdício de dinheiro, mas como um custo, diz o presidente do Canal de Crédito, Marcelo Prata.
"Quem está começando a vida, acabou de mudar de emprego ou de entrar no mercado de trabalho tem muitas variáveis que não conhece. Nesse caso, sugiro alugar porque a pessoa terá tempo de entender como vai funcionar sua vida", afirma.
Outro fator é o perfil da pessoa, diz o planejador financeiro Valter Police. Segundo ele, quem é conservador tende a comprar, pois quer ter algo concreto e ter independência para fazer modificações como reformas.
"Posso ter R$ 1 milhão em um fundo de investimento, mas, se eu perder o emprego, não poderei morar nele. O imóvel é concreto e isso está no inconsciente da pessoa", diz o economista Luiz Calado, autor do livro "Imóveis".
Além disso, é importante avaliar se a pessoa é poupadora ou gastadora, pois, se sabe que vai gastar [o que sobra], o aluguel não será vantajoso.
Para o educador financeiro Mauro Calil, ninguém deve passar a vida no aluguel.
"Poderá valer a pena se for parte de uma estratégia para a conquista do imóvel. Financeiramente é vantajoso, mas há o estresse de a pessoa saber que pode ser obrigada a se mudar amanhã", diz.
"E, aos 89 anos, quem vai pagar o aluguel para ela?", questiona.
ENTRADA
Segundo Prata, muitas vezes, o valor disponível para a entrada ou para a compra à vista não é suficiente para o imóvel desejado. Diante disso, uma estratégia é investir o dinheiro para aumentá-lo.
Mas, nesse caso, o rendimento líquido da aplicação precisa ser maior do que aluguel. Assim, além dessa despesa ser coberta, sobra dinheiro para poupar.
O problema é que, hoje, dificilmente alguma aplicação de renda fixa oferece esse rendimento, dizem os especialistas.
No mercado, o valor médio do aluguel é de 0,5% do preço do imóvel, mas pode haver variações. Cálculos feitos pelo professor da FGV Samy Dana mostram duas simulações em que a aplicação não vale a pena (veja quadro).
Em uma, ao investir em renda fixa R$ 500 mil e reinvestir o rendimento mensal após descontar o aluguel, a pessoa perderia dinheiro em 30 anos. Em outro caso, ao aplicar a entrada, R$ 100 mil e reinvestir o ganho mensal, no mesmo período, o rendimento é pouco, mesmo sem pagar o aluguel.
"Saber quanto você consegue financiar é o primeiro passo para ajustar seu desejo à realidade. Mas, se ainda assim, o valor que você pode comprar não é o tipo de imóvel que gostaria, não tem jeito: tem que guardar mais dinheiro", diz Prata.
E, para isso, é preciso rever o orçamento para poupar mais e com disciplina.