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Engenharia 'sexy'
Formando menos engenheiros do que a China, universidades americanas lutam contra clichês para atrair mais estudantes
Um pequeno veículo sem motorista, com jeito de trator em miniatura --câmera e tela acopladas--, circula pelas mesas e pela bancadas do laboratório da faculdade de Engenharia Yale, em Connecticut (EUA). Sem perceber a algazarra, uma aluna cria coelhinhos azuis de brinquedo em uma impressora 3D.
A lanchonete tem painéis LED por todos os lados, nos quais os alunos dirigem projeções. No laboratório, a trilha sonora é música eletrônica. Tem mais cara de balada que de um sisudo recanto para "nerds".
O Centro de Design e Inovação em Engenharia de Yale, aberto há menos de dois anos, quer ser sexy' o suficiente para atrair estudantes de outras carreiras.
"A engenharia sai ganhando quando gente de outras áreas perde o medo e participa", afirma Isabella Quagliato, engenheira paulista que trabalha há um ano e quatro meses ali.
Em Houston, Texas, a Universidade Rice criou a Oshman Engineering Design Kitchen. Sem os LED ou a música eletrônica, mas a ideia é a mesma: mostrar aos universitários americanos, especialmente aqueles que ainda não escolheram uma especialização, que engenharia é algo divertido e atraente.
Os EUA formam cerca de 120 mil engenheiros por ano (no Brasil, são 44 mil), mas este é considerado um número pequeno perto de China, da Índia ou da Coreia do Sul.
As universidades embarcaram em dar visibilidade à profissão e lutar contra estereótipos associados à carreira.
REFORMA
Em Yale, o centro ocupa boa parte do térreo da faculdade. Quase nada sobrou da antiga biblioteca escura que havia ali. Janelões de vidro, do chão ao teto, foram colocados. "A ideia é que estudantes que estejam caminhando pelo campus vejam a atividade aqui e se interessem", afirma a engenheira paulista.
Propositalmente, perto dos janelões estão as impressoras 3D, protótipos de veículos inteligentes e de drones, máquinas de costura (das antigas), papelão, massinha e plásticos variados.
Mil alunos já são "membros" do centro, depois de passar por uma inscrição online e um cursinho básico para ter cuidados com materiais e acesso ao laboratório --que é aberto 24 horas, nos sete dias de semana. Apenas um terço é aluno regular dos cursos de engenharia.
Os estudantes Alex Carrillo, 19, de engenharia elétrica, e Kevin Abbott, de ciências da computação, passam 30 horas por semana desenvolvendo o tal veículo inteligente com cara de minitrator.
"Produzimos o protótipo com doações de material por empresas e após uma vaquinha na internet", diz Carrillo, que vai levar o veículo, que pesa menos de 70 quilos, a um concurso entre faculdades em Detroit.
Os estudantes já sonham com diversas finalidades comerciais para o veículo, equipado com uma câmera e desenvolvido em quatro meses.
"Ele pode transportar materiais e caixotes naqueles gigantescos armazéns da Amazon, ou pode fazer reconhecimento de campo em áreas com minas terrestres, onde é perigoso para um ser humano caminhar", diz Abbott.
Tanto o presidente da aeronáutica Boeing como um comandante da Marinha americana já deram palestras para os alunos ali.
Outras invenções recentes dos estudantes estão um bicicletário inteligente --com uma gaiola antirroubo.
Na "cozinha do design" da Universidade Rice, há uma forte ênfase em equipamentos de saúde. Durante a visita da Folha, alunos desenhavam um contêiner que pudesse servir de pronto-socorro itinerante na África, com todos os compartimentos e os equipamentos necessários ocupando o menor espaço.
Mas também acabava de ser criado um minirrobô que limpa janelas pelo lado de fora --segundo os estudantes, ideal para arranha-céus.
O fenômeno da engenharia pop' também já chega ao Brasil. Maria Odin, coordenadora da Design Kitchen da Rice, nascida no Brasil de pais americanos, afirma que a PUC-RS já a procurou para tentar fazer a sua "cozinha".
"Se for um espaço convidativo e de experimentação, os alunos se apropriarão rapidamente. Eles sabem tomar conta", diz Odin.