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BC revê crescimento para 1,6% em 2014
Previsão está no Relatório Trimestral de Inflação, divulgado ontem; estimativa anterior era que PIB cresceria 2%
Pela primeira vez, autoridade monetária avalia publicamente que inflação estoura meta ao longo do ano
A economia brasileira continuará a crescer pouco "por algum tempo", na avaliação do Banco Central, que traçou um cenário mais pessimista em relação a indicadores como inflação, PIB (Produto Interno Bruto) e emprego neste e nos próximos anos.
A instituição divulgou neta quarta (26) seu Relatório Trimestral de Inflação, no qual reduziu a previsão de crescimento da economia de 2% para 1,6%.
A estimativa do mercado é mais modesta: 1,16%, segundo o Boletim Focus do Banco Central --que colhe projeções entre cerca de cem instituições-- divulgado na última segunda-feira (23).
O BC também elevou suas projeções de inflação. Pela primeira vez, admitiu que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, considerado a inflação oficial do país) vai superar o teto da meta de 6,5% durante este ano. Isso ocorrerá em setembro, às vésperas das eleições.
A expectativa é que a inflação recue para 6,4% até dezembro, mas o BC calcula que há 48% de chances de estourar esse teto no fim do ano.
Ainda assim, o relatório reforçou a percepção de economistas do mercado de que o BC não deverá voltar a subir juros neste ano.
Os dados negativos da instituição contrastam com o discurso mais otimista do governo. Ao lançar sua candidatura à reeleição, a presidente Dilma Rousseff disse ser contra "o pessimismo, a mediocridade e o baixo astral" e prometeu um "novo ciclo de desenvolvimento" no próximo mandato.
O BC avalia que um novo ciclo de expansão econômica vai depender da recuperação na confiança de consumidores e empresas.
"A economia está passando por uma transição e, por algum tempo, vai ter taxas de crescimento menores do que há alguns anos", disse o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo.
Na avaliação da autoridade monetária, nessa transição o consumo do governo e o das famílias já contribuem menos para o crescimento. Essas forças serão substituídas pelos investimentos, que ainda estão em queda, e pelas exportações, que contribuem hoje pouco para o PIB.
Para Hamilton, o novo equilíbrio virá no momento em que o consumo estiver "andando, e o investimento, correndo." "Quando isso vai acontecer? Não sei", afirmou.
O diretor declarou, ainda, que o crescimento está abaixo do potencial, o que significa que se tornou fator a contribuir para conter a inflação.
Segundo o BC, o aumento sucessivo da taxa básica de juros (Selic), entre abril de 2013 e abril deste ano, já teve efeito sobre a atividade e continuará contribuindo para conter a inflação até 2015.
Os juros subiram de 7,25% para 11% ao ano ao longo desse período.
Apesar da fraqueza na economia e do efeito dos juros, a inflação só começará a cair mais rapidamente em 2016, na previsão do BC, quando voltará a ficar abaixo de 6%.
Para o próximo ano, ainda haverá pressão de tarifas e preços controlados pelo governo, que devem subir mais do que em 2014, além da possibilidade de alta do dólar.