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Crescimento de goleada
Com diversificação da economia e expansão de 6,4% do PIB no primeiro trimestre, Colômbia se consolida como um dos países mais promissores da região e atrai mais e mais investimentos estrangeiros
Na esquina da carrera 7 (a principal de Bogotá) e da rua 93, antes uma área desvalorizada e distante do centro da cidade, a movimentação de trabalhadores é intensa.
Ali, começa a erguer-se a Vitrum, torre de apartamentos de luxo projetada pelo arquiteto norte-americano Richard Meier, vencedor do prêmio Pritzker.
"Por que não Bogotá? A economia está forte na Colômbia e as pessoas querem edifícios de qualidade para morar", diz ele. Seu projeto, cujos apartamentos custam a partir de US$ 2 milhões, é um dos muitos a aquecer o mercado imobiliário de grandes cidades como Bogotá, Medellín e Cali.
O preço dos imóveis por metro quadrado quadruplicou entre 2003 e 2013.
"A perspectiva de que o governo chegue a um acordo que coloque fim à guerrilha ajuda a Colômbia a livrar-se do estigma de lugar violento. Cada vez mais atraímos investimentos estrangeiros para Bogotá, na área imobiliária, de infraestrutura, gastronômica e da moda", diz à Folha David Melo, da Invest in Bogotá, ligada à Câmara de Comércio e à prefeitura local.
A Colômbia é um dos países latino-americanos com melhores perspectivas de desempenho econômico para 2014. No mês passado, foi anunciado que o PIB do primeiro trimestre cresceu 6,4%, enquanto a expectativa para o ano é de 4,7% --o Brasil não deve chegar a 2%.
Ao lado do Peru, da Bolívia e do Panamá, a Colômbia é o país que mais deve crescer na região, com a diferença de que possui uma economia mais variada e não depende apenas da exportação de commodities para a China, que pautou o bom desempenho de várias economias latino-americanas na última década.
"A diferença entre o Peru e a Colômbia é que nós tivemos melhor desempenho em crescimento do PIB, por causa das compras chinesas de minérios. Mas não nos preparamos para a desaceleração chinesa como a Colômbia, que fez mais investimentos em infraestrutura e na indústria", diz o economista peruano Humberto Campodonico.
"Ainda estamos vendendo apenas pedras", conclui.
Em 2013, a Colômbia bateu seu recorde de investimentos estrangeiros, superando os US$ 16 bilhões (o equivalente a R$ 35,5 bilhões pelo câmbio atual, ou 1/4 do do Brasil).
A crise argentina fez com que muitos investidores estrangeiros vissem no país andino mais estabilidade.
A segunda maior cidade colombiana, Medellín (2,5 milhões de habitantes), antes conhecida pelos seus elevados índices de homicídio relacionados ao narcotráfico, nos últimos dez anos levantou obras de infraestrutura e transporte a partir de parcerias do governo local com a iniciativa privada.
Visitá-la logo após a morte do líder criminoso Pablo Escobar, em 1993, e hoje, é encontrar-se com outra realidade. Imensas torres de escritórios ocupam os novos bairros ligados aos negócios que surgiram no período. Abrigam empresas que mudaram suas sedes para a cidade, bancos e multinacionais.
A recente reeleição de Juan Manuel Santos, após uma acirrada disputa com o candidato de extrema-direita Óscar Iván Zuluaga, deve reforçar as políticas de livre-mercado e os tratados de livre-comércio que a Colômbia já mantém com os EUA, com a União Europeia e com vários países latino-americanos. Deve ainda impulsionar a Aliança do Pacífico, que integra com Peru, México e Chile.
COMPETITIVIDADE
O primeiro desafio tem a ver com esses acordos, que o setor agrário acusa de prejudicá-lo --nos supermercados colombianos encontram-se, hoje, alimentos importados ao mesmo custo e às vezes mais baratos que os locais.
Desde o início do ano, protestos de pequenos e médios produtores podem ser vistos nas ruas das principais cidades. Em Bogotá, a população convive com acampamentos, passeatas e prédios e muros pichados por manifestantes.
O segundo desafio é traçar um plano para a economia colombiana pós-conflito.
O fim da guerra com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e com o ELN (Exército de Libertação Nacional), caso se concluam as negociações, significará a reinserção no mercado de mais de 9.000 ex-guerrilheiros, além de resgatar imensas áreas da região amazônica e dos chamados Llanos.
"Estima-se impacto positivo no nosso PIB caso o governo saiba reintegrar esse potencial à economia colombiana", diz o economista colombiano Carlos Andrés Gallo, da Universidad de Los Andes.
Além disso, estimativas do FMI (Fundo Monetário Internacional) mostram que, em 2015, é provável que o PIB nominal colombiano, hoje de US$ 387,7 bilhões, passe o da Argentina, atualmente em US$ 404,5 bilhões, e se torne o segundo maior da América do Sul, atrás do Brasil.
Os analistas concordam, porém, que o sucesso da economia nessa segunda gestão Santos, que se inicia em 7 de agosto próximo, depende da governabilidade e da facilidade de aprovar as reformas prometidas.
O governo ainda terá maioria no Congresso, mas muito menos expressiva que no primeiro período (2010-2014).
Além disso, a oposição ligada ao ex-presidente Álvaro Uribe encontra-se mais forte, com a recente eleição de 19 senadores, incluindo ele próprio, pelo recém-criado partido Centro Democrático.
O uribismo deseja interromper os acordos de paz e posiciona-se contra os tratados de livre-comércio.
BRASIL
As exportações da Colômbia ao Brasil cresceram 23% entre 2012 e 2013, aproximando-se a US$ 1,6 bilhão. Enquanto o investimento das empresas brasileiras na Colômbia foi, no ano passado, de US$ 271 milhões.
No ano passado, a Colômbia reduziu seu deficit comercial com o Brasil em 58%.
"Há cada vez mais interesse de empresas brasileiras em investir na Colômbia, mas muito ainda pode ser feito", afirma Alejandro Pelaez, diretor da Proexport Colombia no Brasil.