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Inveja barra candidata bonita, diz estudo

Pesquisadores queriam testar tese de que beleza é alavanca social, mas descobriram que foto pode prejudicar seleção

Em 93% dos casos, triagem era feita por mulheres, que engavetaram currículos de 'rivais' atraentes

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Mulheres, cuidado: a beleza pode ser um inimigo na hora de procurar emprego.

Essa é a conclusão de um estudo conduzido por dois pesquisadores israelenses, que ficaram surpresos ao descobrir que mulheres atraentes que incluem fotos no currículo têm menos chances de ser selecionadas.

Contrariando o senso comum de que a beleza é uma alavanca social infalível, o estudo mostrou que pode ser uma desvantagem para candidatas a uma entrevista.

A extensa pesquisa realizada por Zeev Shtudiner e Bradley Ruffle, especialistas em economia comportamental, identificou que o motivo principal por trás da rejeição é humano, demasiado humano: a inveja.

Ocorre que mulheres costumam ser maioria na área de recursos humanos. No estudo israelense, em 93% dos casos a triagem dos candidatos era feita por mulheres, que engavetaram os currículos das mulheres atraentes.

Shtudiner e Ruffle mandaram 5.312 currículos fictícios para 2.656 vagas reais de emprego. Para cada vaga foram enviados dois currículos praticamente idênticos, um com foto, outro sem.

Os CVs de mulheres com aparência comum tiveram duas vezes mais convites para entrevistas que as bonitas.

MEDO DA CONCORRÊNCIA

"A principal razão para não contratar mulheres atraentes parece ser a concorrência percebida pelas selecionadoras", diz Ruffle, da Universidade Ben Gurion.

A pesquisa queria testar estudos que apontam a boa aparência como um fator certeiro de ascensão.

A literatura mostra que pessoas atraentes levam vantagem em todas as áreas, diz Shtudiner, da Universidade Ariel. Para as mulheres, isso pode ocorrer no decorrer da carreira, mas não na seleção.

"Nosso estudo reúne evidências de que há um desequilíbrio entre gêneros: se para os homens é bom ser atraente, as mulheres podem ser punidas por sua beleza."

Segundo ele, a psicologia mostra que a competição entre homens é geralmente em termos de remuneração e sucesso profissional.

Já entre as mulheres, a aparência ocupa um lugar central na disputa social.

Uma sondagem telefônica feita com 51 empresas envolvidas no estudo confirmou um "padrão duplo". Ao contrário das mulheres, homens de boa aparência foram favorecidos na seleção.

"A percepção é diferente entre os sexos. Homens bem apessoados são valorizados, pois incluir fotos indicaria autoconfiança", diz Ruffle.

Com as mulheres o estudo mostrou o efeito oposto. Segundo Ruffle, o resultado revela um estigma que vai além da inveja feminina.

"A percepção é que mulheres atraentes adicionam fotos para se promover por meio da aparência, o que é encarado como falta de seriedade."

A conclusão é clara: se você é um homem bonito, inclua a foto no CV. Se é uma mulher bonita, esqueça.

Para evitar discriminação com base na aparência, os pesquisadores recomendam que a seleção seja feita por equipes mistas, formadas por homens e mulheres.

Outra ideia é adotar o modelo usado na Bélgica, onde currículos examinados em repartições públicas não incluem características pessoais, nem sequer os nomes dos candidatos.

"Num mundo ideal os currículos deveriam ser anônimos. Isso evitaria discriminação por gênero e etnia, por exemplo", diz Shtudiner.

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