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Entrevista Nelson Barbosa País pode crescer sem precisar aumentar juros no ano que vem Secretário-executivo da fazenda diz que corte no preço da eletricidade e desoneração da folha já garantem inflação perto do centro da meta VALDO CRUZNATUZA NERY JULIANNA SOFIA DE BRASÍLIA O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, avalia que "não será preciso subir" a taxa básica de juros em 2013, contrariando a expectativa do mercado, que prevê a elevação dos atuais 7,5% para 8,25%, para segurar a inflação. Um dos principais conselheiros da presidente Dilma, ele credita boa parte de sua confiança à redução do preço da energia elétrica anunciada pela chefe. "Essa medida já garante inflação abaixo de 5% no próximo ano." Para ele, o Brasil tem capacidade de crescer 4,5% sem gerar alta de preços. - Folha - O cenário externo vai permitir que o Brasil cresça acima de 4% em 2013? Nelson Barbosa - Houve uma desaceleração mais forte que o esperado na China, mas o governo chinês já sinaliza com mais medidas de estímulo ao crescimento. Nos EUA, o pragmatismo vai fazer com que as medidas de estímulo sejam, em parte, prorrogadas. A grande incógnita é a Europa, que atua para evitar uma crise financeira, mas a velocidade da retomada não está clara. Mesmo nesse cenário, com as medidas que tomamos, é possível, sim, visualizar um crescimento entre 4% e 5% no ano que vem. Crescimento nesta faixa não gera impacto na inflação? Hoje o Brasil cresce abaixo do PIB potencial e, mesmo assim, a inflação está acima de 5%. A maior parte da flutuação da inflação no Brasil não decorre de flutuação de nível de crescimento, mas de choque em alguns preços. Em 2011, a maior parte da alta foi puxada pelos preços das commodities, sobretudo agrícolas e minerais. No Brasil, devido ao açúcar, acabou batendo no preço do etanol, e isso jogou a inflação acima de 7% em alguns meses. Quando o choque refluiu, a inflação caiu. Não há um risco de uma pressão de demanda causar um aumento na inflação de magnitude elevada. Na verdade, é o contrário. A aceleração do crescimento, ao elevar o nível de atividade, aumenta a produtividade e diminui os custos das empresas. Em sua última reunião, o BC indicou que pode estar chegando ao fim o ciclo de redução de juros, devido à inflação e à retomada da economia. Há espaço para a taxa cair abaixo dos atuais 7,5%? Por motivos óbvios, não nos manifestamos sobre o que o Banco Central deve ou não fazer. Preferimos construir as condições para que os juros caiam e permaneçam em nível mais reduzido. É bom lembrar que, há dois anos, quando dizíamos que a taxa real no Brasil poderia cair abaixo de 4%, várias pessoas no mercado diziam que era impossível, porque traria aceleração da inflação. Hoje, a taxa real está em 2% e a inflação, sob controle. O mercado não concorda e prevê que o BC terá de subir os juros em 2013. Quem acredita nisso está subestimando a capacidade de crescimento do Brasil. Temos capacidade, sim, de crescer 4,5% sem gerar pressão inflacionária. Até porque temos várias medidas em análise ou já adotadas que têm o impacto de reduzir a inflação: a desoneração da folha, que corta custo das empresas, e também a redução no preço da tarifa de energia elétrica anunciada pela presidente. Qual o impacto da redução de 16,2% na energia residencial? Como o peso da energia residencial no IPCA é de 3,4%, o corte anunciado pela presidente gera redução na inflação entre 0,5 e 0,6 ponto. Se fosse preciso, seria de 0,58. Mas não é de uma só vez? Se no final do ano que vem a inflação fosse de 4,58%, com a redução do preço de energia cairia para 4%. Por isso que estamos falando que não há perigo inflacionário no ano que vem. Ainda que seja "once for all", tem efeito sobre a economia. Tem ainda aumento da competitividade. Com essa medida de redução da energia, a inflação vai convergir para o centro da meta no final do ano que vem. Essa medida já garante que a inflação fica abaixo de 5% no próximo ano. Então, ao contrário do mercado, que estima uma taxa de juros de 8,25% em 2013 para conter pressões inflacionárias, o sr. avalia que o ideal não seria subir os juros? O juro é resultado. O ideal é que não seja preciso subir o juro. Eu acho que não será preciso subir os juros, porque vamos aumentar o investimento, o crescimento vai gerar aumentos de produtividade, não vão ser criadas pressões inflacionárias excessivas. Há setores dentro do governo avaliando que o crescimento deve fechar em 1,5% ou algo próximo neste ano. Excesso de pessimismo? Olha, o primeiro semestre teve crescimento abaixo do que esperávamos, mas já há sinais claros de que a economia está acelerando, chegando a 4%. Essa velocidade vem só no último trimestre, certo? Talvez já no terceiro. Pode ter 1%, que anualizado dá 4%. O governo vai aprovar tudo o que o Congresso incluiu na medida provisória 563, que amplia a desoneração da folha de pagamento? A presidente é que vai decidir, mas a tendência é aprovar a maioria. E a reforma do PIS/Cofins? A medida tem grande impacto fiscal e não pode ser adotada no curto prazo. Pode ficar para 2014, depende da evolução da economia. É imperativo um superavit primário de 3,1% do PIB em 2013? O primário tem a dedução [desconto do PAC], e aquela margem está lá para ser utilizada ou não. É uma decisão a ser tomada ao longo do ano, e que não deve ser antecipada. O mercado tem dito que o governo abandonou o tripé da política econômica. Não persegue mais o centro da meta de inflação, o câmbio virou administrado, entre R$ 2 e R$ 2,10, e a meta fiscal pode ser flexibilizada. Acho essa uma interpretação equivocada. O governo continua a perseguir o centro da meta de inflação. Neste momento, estamos vivendo um choque externo no preço de grãos. Isso altera a velocidade, mas vamos convergir para o centro da meta. Sobre o câmbio, segue flutuante e ainda está bem apreciado para padrões brasileiros. Não se deve basear o controle da inflação preponderantemente na apreciação cambial. Você cria problemas para a economia, como em 1999 com o câmbio fixo. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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