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Samuel Pessôa

As razões de Bernanke

Ben Bernanke está fazendo tudo o que pode para que a economia dos Estados Unidos pegue no tranco

Na sexta feira da semana passada soubemos que o banco central americano, o Federal Reserve, continuará e reforçará suas operações de comprar títulos no mercado financeiro. Já estavam nos planos compras mensais no valor de US$ 45 bilhões de títulos de dívida pública do Tesouro com prazos longos (de seis a 20 anos), dando em troca títulos de dívida pública do Tesouro de prazo curto (menos de três anos).

O objetivo das operações é reduzir a diferença do juro pago nos títulos longos em comparação aos juros pagos no título curto.

Esta política monetária não é padrão. Em geral, o Banco Central opera fixando a taxa de juros nos papeis de curto prazo. A taxa de juros nos papeis de vencimento mais longos são ajustadas pela oferta e demanda do mercado.

Ocorre que não há mais espaço para reduzir a taxa de juros do curto prazo, que esta já está em zero!

Assim o Federal Reserve compra títulos de dívida longa para reduzir os juros de longo prazo e tentar estimular o investimento privado, que se encontra muito deprimido, dificultando, portanto, a recuperação da economia americana.

Além de manter o programa de compras de títulos públicos longos, Ben Bernanke, o presidente do banco central americano, anunciou que o Federal Reserve irá comprar mensalmente US$ 40 bilhões de títulos lastreados em hipotecas.

O objetivo é tentar estimular o setor de construção civil residencial.

Ao reduzir muito a oferta de papeis lastreados em hipotecas no mercado, o Federal Reserve objetiva reduzir o custo do crédito imobiliário para novas residências.

Finalmente a terceira medida foi avisar o mercado de que os juros curtos ficarão próximos de zero até pelo menos meados de 2015.

Ou seja, Ben Bernanke está fazendo tudo o que pode para que a economia americana pegue no tranco.

A decisão do Banco Central americano baseia-se na premissa de que o desemprego elevado, de 8%, não é estrutural. Segundo Bernanke há "ventos de proa" que têm impedindo que a economia norte-americana cresça por alguns anos acima de 2% ao ano, de forma que a taxa de desemprego possa cair.

Assim, o BC concorda com o argumento de que a economia vive uma crise fruto de carência de demanda. O estouro da bolha de ativos em setembro de 2008 forçou um processo de elevação da poupança das famílias, as empresas não investem porques, mesmo sendo lucrativas, não veem perspectiva de demanda para novos produtos, e os governos (federal, estadual e local) estão muito endividados, com dificuldade de tomar o lugar do setor privado e elevar a demanda.

A dificuldade do setor público em ocupar o lugar do setor privado no momento em que este se retrai representa para Bernanke, provavelmente, o "vento de proa" mais forte que afeta a economia.

A maior preocupação de Bernanke é a duração média do desemprego. Evidentemente quando a taxa de desemprego aumenta, a duração também aumenta.

No entanto, os dados referentes ao período recente, de 2007 até hoje, sugerem que a atual crise é totalmente atípica. O desemprego está elevado e sua duração está muito mais elevada do que o normal.

A duração média do desemprego oscila nos EUA em torno de 10 a 20 semanas. Atualmente, no entanto, essa estatística encontra-se na casa de 40 semanas.

A preocupação de Bernanke é que uma elevada duração do desemprego pode ter impactos permanentes sobre a empregabilidade no longo prazo dos trabalhadores que ficaram muito tempo sem trabalho.

Não há um instrumento fiscal. Resta a ele fazer o que pode. Funcionará? Ninguém sabe. Não há histórico longo o suficiente do impacto de medidas dessa natureza que permita uma avaliação. A ele pareceu que os custos de nada fazer eram maiores do que os benefícios.

SAMUEL PESSÔA é doutor em economia e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da FGV. Escreve aos domingos nesta coluna.

AMANHÃ EM MERCADO:

Marcia Dessen

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