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Análise Expansão é realidade, mas é preciso debater qualidade ZACARIAS GAMAESPECIAL PARA A FOLHA O sistema de ensino superior do Brasil, segundo dados de 2010 do Inep, tem 2.378 instituições de educação superior (IES), das quais apenas 278 são públicas. Isso quer dizer que 88% das IES pertencem à iniciativa privada, leiga e religiosa. Em 2002 havia 1.637 IES: 195 públicas e 1.442 particulares. Nesse período foram fundadas, respectivamente, 83 e 658 novas IES públicas e particulares. É paradoxal essa expansão num país como o Brasil, em que a distribuição de riquezas é desigual e é baixo o rendimento médio da maioria das famílias com filhos em idade universitária. Além disso, não temos a cultura dos americanos, que formam uma poupança para pagar os estudos dos filhos. Mas, apesar das nossas dificuldades sociais, essa expansão é uma realidade concreta e muitos grupos de educação superior apostam alto em seu crescimento nos próximos anos. Os seus investidores nacionais e estrangeiros têm auferido bons dividendos com a valorização das suas ações. Os lucros são altos. Apenas um desses grupos teve lucro líquido de R$ 140 milhões no segundo trimestre de 2012, alta de 186% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, e a expectativa negativa de inadimplência é irrisória, praticamente a que se observa para as instituições financeiras. É o governo brasileiro o grande avalista desse negócio da China. Suas transferências de recursos públicos para as IES privadas, os recursos do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e do ProUni (Programa Universidade para Todos) garantem a rentabilidade desse mercado educacional que já se coloca entre os dez maiores do mundo. Para determinados setores da sociedade, isso expressa a democratização da educação superior no país, a despeito da qualidade do ensino. Salvo as honrosas exceções, a grande maioria de IES produz um autêntico derrame de diplomas sem valor agregado. Inúmeros são os seus diplomados nas filas de empregos ou nas atividades econômicas informais. A sociedade, no entanto, necessita se questionar e debater acerca dessa expansão. Qual o papel estratégico que tais IES ocupam no novo projeto de sociedade que vem se desenhando nos últimos anos? Estão comprometidas com a produção de conhecimento com valor agregado para sustentar o nosso atual e futuro desenvolvimento? Que tipo de cidadãos e quadros estão formando para as nossas Forças Armadas, Legislativo, Judiciário, indústria e comércio? Que inovações, ciência, tecnologia, compreensões de sociedade e cultura desenvolvem? O debate é urgente e precisa entrar em pauta já. ZACARIAS GAMA é professor associado do Uerj/PPFH (Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana) Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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