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Entrevista Luiz Pinguelli Rosa
Governo deve voltar atrás e rediscutir as tarifas de energia
Reprodução | ||
Pinguelli apoia a redução das tarifas,mas discute como o governo deve fazer isso |
EX-PRESIDENTE DA ELETROBRAS DIZ QUE QUEDA NOS CUSTOS PARA A INDÚSTRIA É 'FICÇÃO' E QUE CONSUMIDOR NÃO SENTIRÁ OS 16% PROMETIDOS
Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ e ex-presidente da Eletrobras, apoia a briga de Dilma Rousseff para reduzir as tarifas de energia elétrica, mas defende que o governo antes apure a receita mínima que as empresas do setor precisam para se manter competitivas.
Isso deve ocorrer sob risco de o país voltar a conviver com sucessivos apagões, como já vem ocorrendo em pequena proporção. Para ele, a queda de 20% para a indústria é ficção e o consumidor não vai sentir os 16% prometidos por Dilma, já que a conta de luz em 2013 vai subir pelo grande uso de usinas térmicas neste ano.
(DENISE LUNA)
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Folha - Como está vendo a polêmica da redução de tarifas?
Luiz Pinguelli Rosa - O princípio de reduzir tarifas é correto, porque nossa tarifa é caríssima. O problema veio com a privatização. Os contratos, principalmente para a distribuição de energia, foram muito favoráveis às empresas. A ideia era atrair capital estrangeiro.
Mas isso é só um pedaço da história. O outro pedaço são os encargos, que muitos deles deveriam ir para o Tesouro e vão para o consumidor, como o Luz para Todos, o Sistema Isolado. E, finalmente, os impostos estaduais, esses são os piores, os Estados escorjam as empresas elétricas.
Onde o governo errou?
Faltou debate, os prazos são apertados e o cálculo das tarifas [para redução] foi feito como se cada usina tivesse uma tarifa individual, mas há uma questão sistêmica. Essa energia viaja numa distância enorme. Furnas tem linhas enormes de transmissão.
E qual seria a solução?
O governo deveria voltar atrás, rediscutir as tarifas e talvez atacar por outro lado. Tem que discutir qual a remuneração mínima para ter uma sobrevivência econômica adequada das empresas.
Eu não estou preocupado com a lucratividade do investimento, mas com a viabilidade da empresa. Se a lucratividade for negativa, a empresa é inviável. E vai se perder competência técnica, porque com essa tarifa nova Furnas vai ter que demitir engenheiros, vai perder memória técnica e piorar a performance delas, que já não está boa.
Mas a Eletrobras, principal geradora, concordou em aderir.
As federais todas vão aderir. Mas você pega, por exemplo, Furnas. A energia gera-
da tem preço médio vendido de R$ 80 o MWh (megawatt-hora).
Metade das usinas de Furnas está amortizada ou quase amortizada, ou seja, ela vai passar a ter um valor médio de R$ 5 o MWh para essas usinas e continuar vendendo metade por R$ 80. Então Furnas vai ter um preço médio de R$ 40 o MWh. A receita vai cair brutalmente.
O que pode acontecer?
Já estão acontecendo problemas. O que vai haver é que não vai ter como operar o sistema todo, como fazer a manutenção da linha, dos transformadores. [Márcio] Zimmermann [secretário-executivo de Minas e Energia] declarou que o último apagão foi um erro técnico. É falta de engenharia e vai piorar, e muito.
Em contrapartida os preços das tarifas vão cair, ou não?
Na indústria esse número de 20% é fictício, não existe uma tarifa para energia da indústria, ninguém sabe como isso vai ser aplicado. Trinta por cento de energia da indústria é de consumidores livres, que compram dos geradores, produtores, em contratos confidenciais.
Nas residências esses 16% prometidos também não vão existir. Com o despacho das termelétricas neste ano, a conta vai subir bem em 2013.
E, como a maioria das usinas não vai aderir ao plano, o governo terá que licitar e as tarifas continuarão altas, porque quem comprar terá que amortizar o investimento.