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Outro lado
Agências dizem seguir alto padrão em análises
Empresas argumentam que não podem ser responsáveis por fraudes e números errados em balanços
As agências de rating afirmam que elaboram suas avaliações de risco com base nos dados publicados pelas empresas e pelos bancos, e não podem se responsabilizar pelo impacto de eventuais fraudes contábeis nesse trabalho.
Foi o caso dos bancos PanAmericano e Cruzeiro do Sul, que maquiaram balanço, inventaram empréstimos fictícios e passaram pelo crivo dos auditores independentes e do Banco Central.
No Banco BVA, que está sob intervenção do BC, o problema era de má gestão associada a um ritmo de crescimento insustentável.
"Você não tem como analisar corretamente em cima de um balanço fraudado. No BVA, um mês antes rebaixamos de grau de investimento. Cantamos a bola para todo o mercado do que estava acontecendo com o banco", disse Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating.
Para o banco Cruzeiro do Sul, a Standard & Poor's manteve a nota BBB (escala brasileira), convencionado como grau de investimento, até o dia em que o Banco Central interveio na instituição.
"O Cruzeiro do Sul tinha deficiências de capital e liquidez como outros bancos do mesmo nicho, e nós apontamos; mas não temos como detectar fraude, não fazemos auditoria", diz Sergio Garibian, diretor de ratings para a América Latina da S&P.
Para Ricardo Rochman, professor de finanças da Escola de Economia da FGV, as agências precisam ir além dos dados públicos para fazer bem seu trabalho. "É importante que a agência entre na empresa, verifique, não use só os dados públicos -senão é um trabalho raso, qualquer investidor poderia fazer", diz.
"E não adianta rebaixar dois ou três meses antes, porque não vai dar tempo de o investidor se livrar dos papéis e ele vai ficar com o mico na mão. Isso aí é rating obituário", diz uma fonte do setor.
Para Rodrigues, não é verdade que as agências brasileiras deem sempre notas melhores do que as estrangeiras.
Ele afirma que, quando a Caixa comprou parte do Banco PanAmericano em 2009, as agências estrangeiras elevaram o rating do banco por considerar uma redução em seu risco.
"Nós mantivemos o rating porque o negócio ainda não estava totalmente azeitado e havia rumores de problemas com os auditores", disse Rodrigues.
Em 2004, no entanto, a Austin deu nota A ("solidez financeira boa; risco muito baixo") para o Banco Santos dois meses antes de o BC intervir na instituição.
A Fitch elevou o rating do PanAmericano para AA+ (risco de crédito muito baixo comparado a outros emissores do país) em julho de 2010 -o banco sofreu intervenção em novembro.
"Quando houve a aquisição pela Caixa, achamos que ela iria dar suporte ao banco se houvesse necessidade, o que não ocorreu; isso nos surpreendeu", diz Rafael Guedes, diretor-executivo da Fitch no Brasil.
Procurada pela reportagem da Folha, a LF Rating não quis falar.
FISCALIZAÇÃO
Com a nova regulação da CVM, uma agência pode ser punida até com a cassação de seu registro caso "induza o usuário ao erro quanto à situação creditícia de um emissor".
Os ratings são elaborados a partir de metodologias que, além da capacidade de pagamento e de solvência, também consideram estatísticas de não pagamento de títulos.