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Fiat investe em marcas de luxo para fugir da crise européia
Medida é considerada a mais audaciosa e arriscada aposta no futuro da montadora, um dos símbolos da Itália
Sempre que Sergio Marchionne, o presidente-executivo da Fiat e da Chrysler, aparece em público, um jovem alto e de cabelos cacheados muitas vezes contempla a cena fora do foco das câmeras.
Trata-se de John Elkann. Ele é o chefe de Marchionne.
Elkann, 36, o herdeiro do poderoso clã italiano Agnelli, se tornou vice-presidente do conselho da Fiat há pouco mais de uma década e foi promovido à presidência do conselho em 2010.
Por anos, sua história foi a saga de um herdeiro jovem, tímido e desajeitado forçado a assumir prematuramente a liderança dos negócios devido a uma tragédia familiar. Mas isso mudou.
Agora, Elkann vem assumindo o papel principal na resposta à questão que a companhia de sua família precisa enfrentar: será que aquilo que é bom para a Itália continua a ser bom para a Fiat?
A questão para muitos era por quanto tempo mais a empresa de sua família, símbolo do poderio industrial italiano, deveria continuar atrelada à economia problemática de seu país de origem.
A resposta de Elkann surgiu há dois meses, quando a Fiat anunciou que elevaria seu investimento no país em ao menos 50% nos próximos anos, para até € 18 bilhões.
Isso incluiria bilhões para promover a Maserati e a Alfa Romeo -marcas respeitadas, mas com históricos menos que estelares- à condição de rivais diretos das alemãs Audi, BMW e Mercedes no mercado de luxo.
Se a Alfa Romeo e a Maserati conseguirem sucesso, reduzirão a dependência da Fiat quanto aos carros populares na Itália e no sul da Europa, o foco da crise econômica no continente.
Mas, caso fracassem, as consequências serão graves. As marcas de massa -não só a Fiat, mas também Ford, Peugeot e Opel- estão sofrendo com o recuo no mercado europeu e sofrerão cada qual prejuízo superior a US$ 1 bilhão neste ano.
Para resumir, as medidas de Elkann representam a mais audaciosa e arriscada aposta no futuro da Fiat e da fortuna da família Agnelli.
Pessoas que o conhecem bem dizem que Elkann (que viveu no Reino Unido e no Brasil antes de fazer o segundo grau em Paris) pode preservar a conexão sentimental entre sua família e a Itália porque ele já diversificou a carteira de investimento de US$ 7,5 bilhões dos Agnelli para afastá-la da Itália e dos automóveis.
A história da montadora está estreitamente entrelaçada à transformação da Itália, de pobre país agrícola a superpotência industrial.
A ligação com o país é tão forte que Elkann se reúne regularmente com o premiê Mario Monti, velho amigo da família Agnelli e ex-integrante do conselho da Fiat.
Essa herança significa que a queda nas vendas de automóveis cria um problema que vai além dos números. Alguns italianos veem a falta de investimento em novos modelos, nos últimos anos, como uma traição.
Pode ser por isso que a companhia decidiu construir uma sexta fábrica na Itália, para a montagem de modelos Maserati de exportação, ainda que tenha mantido cinco delas inativas por um longo período.