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Finanças Pessoais
MARCIA DESSEN - marcia.dessen@bmibrasil.com.br
Como investir em real para garantir poder de compra em dólar
Minha irmã Eliana está de malas prontas. Foram muitos os destinos já percorridos por ela, que prefere lugares exóticos e pouco badalados, com o propósito verdadeiro de conhecer o mundo. Os preparativos para cada viagem exigem um bom planejamento.
Um dos aspectos que ela aprendeu a administrar, além de fazer malas pequenas e leves, diz respeito ao orçamento necessário para a viagem.
Como as despesas são realizadas em outra moeda, ela sabe que não adianta acumular reais para atingir esse objetivo. Seu último destino foi o Butão, no Himalaia, entre a China e a Índia. A moeda local é o ngultrum, cujo valor equivale ao da rupia indiana. Mas o dólar norte-americano é aceito na maioria dos estabelecimentos comerciais.
Formas de pagamento no exterior são muitas: dólar, euro, a moeda local, cartões de crédito ou débito, cheques de viagem, cartão pré-pago. Como a aceitação desses meios de pagamento varia de país para país, investigue antes de viajar. Meu tema é como acumular antecipadamente essa reserva no Brasil, evitando o risco da valorização da moeda estrangeira, o que pode comprometer seus planos.
ACUMULAÇÃO EM REAIS
Aplicar na poupança, no CDB ou no fundo DI, por exemplo, não é boa ideia, pois pode comprometer a parte financeira da viagem. Suponha que a viagem seja daqui a dois anos e custe US$ 10 mil, equivalentes a R$ 20 mil no câmbio atual. Uma aplicação mensal de R$ 800 por 24 meses, com juros líquidos de 0,5% ao mês, deve assegurar esse montante.
O problema é que você não vai usar reais para pagar passagens, hospedagem e outras despesas, já que tudo será pago em moeda estrangeira.
O risco é o da oscilação da taxa de câmbio, que converterá real em moeda estrangeira. Se daqui a dois anos a taxa de câmbio cair para
R$ 1,80, você poderá comprar mais de US$ 11 mil. Mas, se a taxa de câmbio subir para R$ 2,20, você comprará US$ 9.000, menos do que precisa para a viagem.
MOEDA ESTRANGEIRA
Para não correr o risco da valorização da moeda estrangeira, o ideal é acumular a reserva nessa moeda.
O dólar é a moeda estrangeira de maior aceitação no mundo e a mais adequada para acumular essa reserva.
Se o seu destino é um país que faz parte da União Europeia, o euro faz mais sentido. Você pode comprar um pouco todos os meses, em bancos ou casas de câmbio autorizadas. Guardar o dinheiro em lugar seguro é um risco a ser administrado.
FUNDO CAMBIAL
Aplicar seus reais em um fundo cambial pode ser uma boa alternativa. A estratégia de investimento desses fundos é acompanhar a variação cambial entre duas moedas.
A ideia não é ganhar mais do que a variação da taxa Selic, ou da taxa DI ou mesmo da inflação. O objetivo aqui é preservar seu poder de compra na moeda estrangeira.
A rentabilidade é variável e pode ser negativa em alguns períodos. Muitas vezes, a rentabilidade do fundo excede a variação cambial. Isso ocorre porque operações usadas por gestores podem ter componentes de juros prefixados.
Quando bem administrados, e em prazo relativamente longo, nota-se rentabilidade superior à da variação cambial no mesmo período.
EXEMPLO
Suponha um fundo totalmente aderente à variação cambial. A taxa de câmbio na data inicial é de R$ 1,90 e você deposita R$ 20 mil, equivalentes a US$ 10.526.
A tabela simula dois cenários hipotéticos de valorização e desvalorização da moeda e, consequentemente, da rentabilidade do fundo. Observe que nos cenários apresentados a quantidade de reais diminui 10% ou aumenta 17%, mas o valor equivalente em dólares se mantém.
PROTEÇÃO IMPERFEITA
Embora a proteção não seja perfeita, como demonstrado na tabela, espera-se que, ao final de determinado prazo, você tenha quantidade de reais suficiente para comprar os dólares para a viagem ou o curso no exterior.
Três fatores impedem a aderência perfeita do fundo à variação cambial: a oscilação da taxa de juros prefixada de algumas operações cambiais; os custos de administração do fundo; o Imposto de Renda devido sobre a valorização da cota.
COMO FUNCIONA
Aplicações e resgates são em reais e podem ser feitos diariamente na maioria dos fundos cambiais.
Leia o prospecto antes de investir e verifique se a estratégia do fundo é oferecer hedge (proteção) na moeda estrangeira.
Se o seu planejamento indica que você precisa acumular US$ 500 (ou euros) por mês, calcule o equivalente em reais e aplique no fundo.
Exemplo: aplique R$ 1.000 se a cotação da moeda for de R$ 2 ou R$ 900 se a cotação for de R$ 1,80.
Invista pelo maior prazo possível para reduzir o Imposto de Renda, que será de 15% sobre os rendimentos a partir de dois anos.
E boa viagem!