São Paulo, segunda-feira, 01 de agosto de 2011

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Programas sociais viram investimento no Reino Unido

Governo remunera investidor que coloque recursos em áreas consideradas críticas, como sistema prisional

Projeto em andamento tem a meta de reduzir a reincidência de presos, mas modelo pode ser usado para outros fins

CAROLINA MATOS
DE SÃO PAULO

Para atrair mais recursos privados a causas sociais, uma organização sem fins lucrativos do Reino Unido fez uma parceria com o governo para remunerar investidores.
Por meio de contratos chamados "Social Impact Bonds" (títulos de impacto social), o governo britânico se compromete a pagar, a quem investir em projetos sociais específicos, um percentual sobre o valor aplicado.
A taxa de retorno vem ao final de um determinado período e varia conforme os resultados do projeto em questão -para, por exemplo, diminuir o número de presos que, depois de libertados, voltam para a cadeia.
O dinheiro usado para remunerar os investidores é público e vem da quantia economizada pelo governo nas áreas sociais beneficiadas.
Estima-se que o poder público poupe, no caso do projeto no sistema prisional, o dobro do total que tem a pagar como retorno.
Os primeiros títulos desse tipo foram emitidos no Reino Unidos em setembro de 2010 e são referentes a um programa para, justamente, reduzir a reincidência na penitenciária HMP Peterborough.
Os idealizadores dizem que, dos 60 mil detentos que deixam o sistema prisional britânico anualmente depois de cumprir pena de menos de 12 meses, 60% retornam à cadeia em até um ano.
O projeto, considerado ainda em teste, vai acompanhar 3.000 presos que serão libertados em seis anos. O primeiro pagamento de dividendos está programado para 2014 e outros dois virão.
A estimativa é que, se o programa for bem-sucedido e reduzir em pelo menos 10% o número de reincidentes, o ganho sobre o investimento seja de cerca de 7,5% ao ano.
Para alcançar a meta, o projeto prevê uma assistência ao preso que começa dentro da cadeia e continua fora dela, para ajudá-lo a se reinserir na sociedade.
"No Reino Unido, os detentos têm pouquíssimo apoio para isso. Muitas vezes, precisam de ajuda para voltar para suas famílias [muitos vêm do leste europeu] ou para encontrar emprego", diz David Hutchison, presidente-executivo da Social Finance, criadora do projeto.

DIVERSAS ÁREAS
Embora os primeiros títulos sociais ingleses estejam relacionados ao sistema prisional, o mecanismo pode ser aplicado a qualquer área social "crítica", como dependência de drogas e gravidez na adolescência.
"Queremos identificar problemas sociais e explorar intervenções eficazes, e o modelo de metas ajuda", afirma Hutchison, egresso do mercado financeiro.
Hoje, o projeto tem 17 investidores -a maioria fundações britânicas, mas também dois investidores dos EUA-, com aplicação total de £ 5 milhões.
Um deles é James Perry, dono da empresa de alimentação Cook e membro da instituição filantrópica Panahpur, que investiu £ 100 mil.
"Como investidores sociais, assumimos o risco na esperança de obter tanto retornos sociais quanto financeiros", diz Perry. "É uma nova forma de conseguirmos uma mudança social positiva quando as limitações da caridade e da intervenção governamental são tão óbvias."


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