São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 2011

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ANÁLISE PESSIMISTA

Há 3 potenciais crises colossais, e o Brasil vai sentir o golpe

MARCELO RIBEIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA


A situação em que se encontram os mercados acionários globais pode ser ilustrada por aqueles desenhos animados, como os do "Tom & Jerry" e do "Papaléguas", em que o personagem, fugindo de uma perseguição, vai correndo em direção ao precipício sem se dar conta de que o chão já não se encontra mais embaixo dos seus pés.
Ele só despenca quando olha para baixo e se dá conta disso.
O mundo está diante de três crises potencialmente colossais: nos Estados Unidos, na Europa e na China. Nos Estados Unidos, o incentivo fiscal, que permite que toda compra de ativo fixo realizada em 2011 seja lançada integralmente como despesa corrente
em vez de ser depreciada em 20 anos, gerou aumento nos investimentos -certamente antecipando compras que somente seriam feitas em 2012.
Da mesma forma, a simples redução das contribuições previdenciárias por um ano também será revertida em 2012.
Na Europa, "apertem os cintos que o piloto sumiu".
Os custos da solução para a Europa crescem de forma exponencial à medida que o tempo passa.
Nós, latino-americanos que vivenciamos os anos 1980, sabemos qual é o final de uma novela como essa: "default" (calote) e desvalorização (da moeda).
Só assim o problema fundamental, que é falta de competitividade das economias da Irlanda, da Itália, da Espanha, da Grécia e de Portugal, poderá ser resolvido.
Para a China, o jogo de manter sua moeda, o yuan, artificialmente desvalorizada acabou.
A reflação fiscal e monetária [aumento de circulação de moeda, de produtos e de preços] promovida pelos Estados Unidos provocou uma disparada no preço das commodities, elevando os custos de produção na China e encarecendo as exportações em cerca de 15% ao ano há mais de 12 meses.
O resultado começa a ser sentido agora: as reservas cambiais da China, que vinham crescendo, em média, cerca de US$ 48 bilhões ao mês no primeiro semestre deste ano, avançaram apenas US$ 4 bilhões no terceiro trimestre deste ano.
Cabe lembrar que as reservas chinesas pararam de crescer meses antes do colapso das commodities e das ações de mercados emergentes como o Brasil em 2008, pouco antes de o banco Lehman Brothers quebrar.
A taxa de crescimento das reservas globais é o melhor indicador da situação de liquidez global e, por aí, podemos ver que os amortecedores (liquidez) que estamos usando para atravessar essas "crateras" estão vencidos.
No ano que vem, o personagem do desenho animado se dará conta de que o chão não está mais debaixo dos seus pés.
O Brasil sentirá o golpe, não apenas por estar inserido na economia global mas também por ser um país no qual, historicamente, a Bolsa e a moeda costumam oscilar de forma muito mais acentuada do que a média dos países -nos bons e nos maus momentos.

MARCELO RIBEIRO é estrategista da Pentágono Asset Management.



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