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Sob crise, zona do euro aumenta gasto social
Apesar do discurso de austeridade, despesa subiu 10% entre 2002 e 2011
Investimento foi maior nos países com pior situação econômica, mas trouxe pouco impacto positivo
Apesar do discurso de implementação de medidas de austeridade para lidar com a forte crise econômica, os gastos com proteção social na zona do euro aumentaram quase 10% entre 2002 e 2011.
Os cálculos foram feitos pela Folha com base em recente estudo publicado pelo Eurostat, escritório oficial de estatísticas da União Europeia.
Em 2002, as despesas com saúde e proteção social correspondiam a 25,2% do PIB (Produto Interno Bruto) da zona do euro; em 2011, último ano em que há dados disponíveis, o patamar subiu para 27,6% do PIB da região.
Nesse período, a região registrou crescimento econômico de cerca de 25%, mesmo com a crise a partir de 2008.
Os gastos para a área social e de saúde corresponderam a 55,6% das despesas gerais dos governos em 2011.
Nos países em crise, especialmente aqueles que já pediram socorro às autoridades europeias, as despesas com o Estado de bem-estar social aumentaram ainda mais.
A Irlanda, considerada um exemplo de observância das regras de austeridade, viu os gastos nesse setor aumentarem 55,97% no período: passaram de 15,9% do PIB em 2002 para 24,8% em 2011.
Na Espanha, o aumento foi de 27,47%, patamar próximo ao de Portugal, onde os gastos subiram 27,04%.
A Grécia, que precisou de dois pacotes de socorro financeiro para não dar calote, teve crescimento de 20,55% dos gastos no período.
Em nenhum dos países o PIB de 2011 era menor do que o de 2003. Isso exclui a hipótese de que o aumento proporcional pudesse ser explicado por queda da atividade.
"O aumento se deve ao fato de que, numa economia ruim, mais pessoas se tornam dependentes de proteção social", diz à Folha Robert Hancké, professor de política econômica europeia na London School of Economics.
Hancké critica as políticas implementadas no continente como resposta à crise: "A austeridade acaba por criar o seu próprio círculo vicioso".
A Alemanha, maior economia da zona do euro e principal defensora das políticas de consolidação fiscal, seguiu o caminho inverso. Registrou queda de 5,34% nos gastos com proteção social e saúde no período: de 28,1% do PIB em 2002 para 26,6% em 2011.
O documento "Emprego e Desenvolvimento Social - 2012", publicado pela Comissão Europeia neste ano, mostra que, mesmo com altos gastos sociais, houve pouco impacto positivo na Grécia, Espanha e Portugal. O relatório sugere a revisão de como o dinheiro é gasto para melhorar a rede social.